Por Pedro Collares Maia Filho – Membros do GBCP e Cirurgião de Cabeça e Pescoço em Fortaleza-CE.
O esvaziamento cervical profilático consiste na remoção cirúrgica das cadeias linfonodais cervicais, responsáveis pela drenagem linfática de um determinado sítio tumoral, mesmo sem haver evidência clínica de metástases linfonodais. Esse ainda é o padrão-ouro para o tratamento do câncer de cabeça e pescoço com risco de metástase linfonodal oculta igual ou superior a 20%, quando a cirurgia é também a modalidade escolhida para o tratamento do tumor primário(1,2).
Além da possibilidade de promover um novo estadiamento (histopatológico), o esvaziamento cervical profilático nesses casos está associado a uma melhor sobrevida, em comparação com pacientes que tiveram a conduta “wait and see” (expectante) adotada para o manejo do pescoço(2).
Entretanto, o estadiamento clínico do pescoço vem sendo reavaliado, com o advento do PET-CT(1–3). Será que a introdução dessa nova tecnologia poderia ter impacto suficiente no estadiamento desses casos para permitir a adoção de uma conduta expectante nos pescoços clinicamente negativos (cN0)?
Uma publicação recente do Journal of Clinical Oncology (Multicenter Trial of [18F]fluorodeoxyglucose Positron Emission Tomography/Computed Tomography Staging of Head and Neck Cancer and Negative Predictive Value and Surgical Impact in the N0 Neck: Results From ACRIN 6685) traz os resultados de um estudo multicêntrico que comparou o estadiamento do pescoço de pacientes com câncer de cabeça e pescoço através do PET-CT com o estadiamento histopatológico(3).
A pesquisa mostrou que, dos 144 casos estadiados com cN0 pelo PET-CT no pré-operatório, apenas 19 apresentaram resultado falso negativo, ou seja, metástases linfonodais identificadas no histopatológico (pN+). O valor preditivo negativo do PET-CT na amostra estudada foi de 87%, baseado na análise visual do exame. Quando foram adotados cut points de SUVmax para determinação de resultado, os valores preditivos negativos encontrados foram superiores a 93%.
Embora publicações como essa sejam importantes, mais estudos são necessários antes de validar o método como opção segura para o manejo do pescoço clinicamente negativo no câncer de cabeça e pescoço.
Referências:
- Shah JP, Patel SG, Singh B. Jatin Shah’s Head and Neck Surgery and Oncology. 4th ed. Elsevier Health Sciences; 2012. 856 p.
- Koyfman SA, Ismaila N, Crook D, D’Cruz A, Rodriguez CP, Sher DJ, et al. Management of the Neck in Squamous Cell Carcinoma of the Oral Cavity and Oropharynx: ASCO Clinical Practice Guideline. J Clin Oncol. fevereiro de 2019;JCO1801921.
- Lowe VJ, Duan F, Subramaniam RM, Sicks JD, Romanoff J, Bartel T, et al. Multicenter Trial of [18F]fluorodeoxyglucose Positron Emission Tomography/Computed Tomography Staging of Head and Neck Cancer and Negative Predictive Value and Surgical Impact in the N0 Neck: Results From ACRIN 6685. J Clin Oncol [Internet]. 15 de fevereiro de 2019;JCO.18.01182. Available at: https://doi.org/10.1200/JCO.18.01182