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Categoria : Publicações Científicas

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Nivolumabe mais Ipilimumabe não melhorou sobrevida de pacientes com carcinoma de células escamosas da cabeça e pescoço, aponta estudo

Publicado em dezembro na revista científica Journal of Clinical Oncology, o estudo de fase III, randomizado e aberto, buscou comparar Nivolumabe associado com Ipilimumabe com o regime extremo como tratamento de primeira linha em pacientes com câncer de cabeça e pescoço de células escamosas metastático ou recorrente.

Contudo, os dados divulgados em “Nivolumab Plus Ipilimumab Versus EXTREME Regimen as First-Line Treatment for Recurrent/Metastatic Squamous Cell Carcinoma of the Head and Neck: The Final Results of CheckMate 651” não obtiveram resultado positivo.

Na conclusão da pesquisa intitulada CheckMate 651, os pesquisadores constataram que Nivolumabe mais Ipilimumabe de primeira linha não melhorou a sobrevida global de pacientes com carcinoma espinocelular recorrente ou metastático de cabeça e pescoço (SCCHN), em comparação com o regime EXTREME (cetuximabe mais cisplatina/carboplatina mais fluorouracilo ≤ 6 ciclos seguidos de manutenção com cetuximabe).

No estudo aberto, 947 pacientes com SCCHN recorrente ou metastático que não receberam nenhum tratamento sistêmico anterior foram designados aleatoriamente em uma base de 1 para 1 para receber Nivolumabe mais Ipilimumabe (n = 472) ou EXTREME (n = 475). No braço Nivolumabe mais Ipilimumabe, 39,2% tiveram pontuação positiva combinada PD-L1 (CPS) ≥ 20, em comparação com 37,5% no braço EXTREME. Os pontos finais primários deste estudo foram a sobrevida global em todas as populações aleatoriamente designadas e CPS ≥ 20.

A convidada pelo GBCP para comentar o trabalho é a oncologista Milena Perez Mak, médica clínica da OncoStar e uma das coautoras da pesquisa. Em sua avaliação, esse estudo infelizmente não foi positivo para a sobrevida global: “Teve um desenho estatístico bastante robusto e parte do pressuposto que o braço controle teria uma sobrevida de aproximadamente 10 meses e se atingiu a sobrevida mediana de 13,9 meses para o braço da imunoterapia combinada e 13,5 meses para o regime EXTREME”.

A oncologista ainda destaca que mesmo com essa conclusão, o que chamou a atenção foi um número alto de pacientes que completaram dois anos de tratamento no braço da imunoterapia isolada. Ela também destaca que “para o futuro é preciso avaliar qual seria a melhor subpopulação que se beneficiaria de uma intensificação da imunoterapia”.

Além disso, conclui que nesse momento não há como recomendar esse tratamento como uma terapia padrão. “O caminho para melhorar a resposta imuno dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço talvez não seja essa combinação, mas outras válidas nesse contexto”, diz.

Portanto, mais análises são necessárias para determinar a utilidade da imunoterapia dupla como uma opção de tratamento para SCCHN.

 

Referência

HADDAD, Robert I: et al. Nivolumab Plus Ipilimumab Versus EXTREME Regimen as First-Line Treatment for Recurrent/Metastatic Squamous Cell Carcinoma of the Head and Neck: The Final Results of CheckMate 651. J Clin Oncol, 2022.

Disponível em:

https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/JCO.22.00332

 

O tema também foi comentado em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o nosso podcast, em formato de pílulas.


Confira:


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Revisão sistemática apresenta correlação entre a extensão extranodal radiológica e patológica no câncer orofaríngeo associado ao HPV

As infecções por HPV de alto risco podem causar câncer nas partes do corpo onde as células são infectadas, como a orofaringe (trecho da garganta logo atrás da boca). O carcinoma espinocelular de orofaringe associado ao papilomavírus humano (HPV[+]OPSCC) requer mais pesquisas para otimizar o sistema de estadiamento clínico existente e orientar a seleção do tratamento.

Para aprofundar o tema, foi publicado em setembro na Wiley o estudo “Correlation between radiologic and pathologic extranodal extension in HPV-associated oropharyngeal cancer: Systematic review”, no qual pesquisadores realizaram uma revisão sistemática para compreender se o pré-tratamento da extensão extranodal (ENE) tem implicações clínicas significativas no carcinoma espinocelular de orofaringe (OPSCC) positivo para papilomavírus humano (HPV+).

Na metodologia utilizada, os critérios de inclusão foram identificados e selecionados com a ajuda de um bibliotecário científico, com data de corte de 18 de maio de 2021. A pesquisa foi realizada nos bancos de dados eletrônicos MEDLINE (PubMed), Embase (Ovid), Cochrane Central Register of Controlled Trials (via Cochrane Library), Web of Science e Scopus (apenas pesquisas em inglês fizeram parte).

Um total de 1772 citações foram recuperadas na busca inicial. Após a triagem dos títulos e resumos, seis estudos foram incluídos na revisão, sendo quatro elegíveis para metanálise e dois submetidos à síntese narrativa. 

A convite do GBCP para comentar esse estudo, a médica radiologista Dra. Gislaine Machado Porto, do Departamento de Diagnóstico por Imagem e do Centro de Referência de Tumores de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo Cancer Center, observa que “todos os pacientes tinham confirmação histopatológica nesses linfonodos suspeitos, o que é muito interessante”, afirma.

Segundo Dra. Gislaine, o grupo de pesquisa acertou em inserir pacientes que não haviam sido submetidos a uma terapia, quimioterapia ou radioterapia, porque alterações pós-terapêuticas podem confundir, principalmente as da gordura de pele linfodomodal – principal critério para avaliar se vai ter ou não extensão extracapsular. Mas ela alerta que “devido ao pequeno número de casos incluídos, não se conseguiu agrupar todas as diferentes modalidades na análise da metanálise”.

A especialista ainda observa que “a resposta para avaliar o melhor método em pacientes com câncer orofaríngeo associado ao HPV persiste em aberto”. A profissional conclui que este estudo tem um impacto ao reforçar a tomografia como um método muito bom de primeira escolha na avaliação de OPSCC. “É rápido, barato, disponível e tem um desempenho moderado regular pra avaliação a extensão extracapsular”, diz.

 

 

Referência do estudo

 

Morey T, Hodge J-C, Stern C, Krishnan S, Foreman A. Correlation between radiologic and pathologic extranodal extension in HPV-associated oropharyngeal cancer: Systematic review. Pescoço. 2022;44(12): 2875-2885. doi:10.1002/hed.2718.

 

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Estudo traz classificação de tumores nasossinusais por meio de algoritmo de aprendizado de máquina baseado em padrões de metilação do DNA

Os tumores nasossinusais são muito raros e representam cerca de 2% de todas as neoplasias malignas. Sendo uma doença incomum, poucos estudos estão disponíveis para definir a melhor abordagem terapêutica. Pensando nisso, foi desenvolvida uma metodologia que resultou em pesquisa publicada em novembro na revista científica Nature Communications.

Intitulado DNA methylation-based classification of sinonasal tumors, o trabalho buscou trazer uma nova classificação dos tumores nasossinusais, ajudando a mudar a percepção atual dos carcinomas indiferenciados nasossinusais. Os pesquisadores utilizaram um algoritmo de aprendizado de máquina baseado em padrões de metilação do DNA para classificá-los com confiabilidade de grau clínico.

Para o estudo, foi coletado cortes de 395 tumores nasossinusais e diagnósticos diferenciais relevantes abrangendo 18 diferentes entidades definidas histologicamente. Já para testar se a classificação tumoral baseada na metilação do DNA para carcinomas indiferenciados nasossinusais (SNUCs) era aplicável, obtiveram cortes de 429 perfis de metilação do DNA de alta qualidade de tumores nasossinusais e tecido normal. Para a análise, um total de 18 classes epigenéticas distintas e estáveis ​​foram identificadas.

Os autores concluíram que tumores nasossinusais com morfologia SNUC não são tão indiferenciados quanto a terminologia atual sugere, mas sim reatribuída a quatro moléculas, de classes distintas, definidas por perfis epigenéticos, mutacionais e proteômicos.

Convidado pelo GPCP para comentar este estudo, o médico patologista do A.C.Camargo Cancer Center, Dr. Felipe D’Almeida Costa,  coordenador médico de Educação da Patologia da DASA e Vice-Presidente para Assuntos Acadêmicos da Sociedade Brasileira de Patologia, avalia a metodologia como revolucionária no auxílio de diagnóstico de alguns tipos de tumores. “Junto com a publicação desse artigo, vem também a disponibilidade online de um website para executar esse algoritmo de ventilação. Pode-se pegar os arquivos brutos e submeter no site www.aimethylation.com”, explica.

Ainda conforme Felipe, a metodologia empregada é robusta e “vai ajudar a classificar esses tumores, além de trazer uma precisão muito maior e direcionando os pacientes para o tratamento adequado”, esclarece.

No Brasil, algumas instituições estão utilizando o perfil de ventilação – mais voltada para a pesquisa, como é o caso da Universidade de São Paulo (USP). A DASA começou a fazer de forma comercial.

O médico patologista finaliza dizendo que este é um artigo desenhado e construído de uma forma muito interessante. “Eu realmente gostaria de ter a oportunidade de testar alguns casos, para executar algoritmos neles, até para testar se estamos fazendo diagnóstico destes tumores de forma correta”, pontua.

 

Referência do estudo

JURMEISTER, Philipp. DNA methylation-based classification of sinonasal tumors. Nature Communications, 2022.

Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-022-34815-3

 

 

O estudo também foi comentado em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o nosso podcast, em formato de pílulas. Confira: 

 

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Ensaio avaliou uso de cabecitabina adjuvante após quimiorradioterapia concomitante em pacientes com carcinoma nasofaríngeo avançado

A capecitabina é um medicamento que tem melhor toxidade com perfil de manejo mais palatável, aponta estudo publicado em outubro na revista científica JAMA Oncology. O trabalho multicêntrico chinês “Adjuvant Capecitabine Following Concurrent Chemoradiotherapy in Locoregionally Advanced Nasopharygeal Carcinoma”, avaliou o papel da capecitabina como terapia adjuvante em carcinoma nasofaríngeo.

 

A análise incluiu 180 pacientes, com 143 deles [79,4%] homens – com idade mediana de 47 [40-55] anos. Os pacientes foram recrutados de 31 de março de 2014 a 27 de julho de 2018 em três instituições na China, com pelo menos três anos de acompanhamento. A data de corte da coleta de dados foi 9 de fevereiro de 2022. Os pacientes foram aleatoriamente designados para receber Capecitabina (duas vezes ao dia por 14 dias, a cada 3 semanas, por 8 ciclos) ou observação após quimiorradioterapia a cada 3 semanas por 2 a 3 ciclos, dependendo da duração da radioterapia.

 

Para avaliar esses resultados, o convidado pelo GBCP é o oncologista clínico Daniel Oliveira Brito, membro da American Society of Clinical Oncology (ASCO) e médico titular do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB). Na opinião Daniel Brito, três pontos são importantes nessa pesquisa chinesa. “O estudo não levou em consideração a quimioterapia de indução, que já é uma realidade em pacientes com carcinoma de nasofaringe localmente avançado, principalmente em pacientes de alto risco”, explica. Brito ressalta que pacientes de 2014 a 2018 participaram da pesquisa e existem alguns estudos mais recentes, o que de alguma forma impacta na interpretação dos resultados para entender o benefício da terapia.

 

O oncologista aponta também para o benefício em sobrevida global. “Em outro estudo publicado ano passado, com capecetabina e em um regime metronômico, houve ganho de sobrevida global”, aponta. Por último, Dr. Daniel Brito afirma que existem poucos eventos para analisar uma população pequena, de 180 pacientes, assim como questiona se isso será utilizado na prática e qual é a população de fato que vai se beneficiar dessa estratégia.

 

Referência do estudo

Miao J, Wang L, Tan SH, Li JG, Yi J, Ong EHW, Tan LLY, Zhang Y, Gong X, Chen Q, Xiang YQ, Chen MY, Guo Y, Lv X, Xia WX, Tang L, Deng X, Guo X, Han F, Mai HQ, Chua MLK, Zhao C. Adjuvant Capecitabine Following Concurrent Chemoradiotherapy in Locoregionally Advanced Nasopharyngeal Carcinoma: A Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. 2022 Oct 13:e224656. 

 

O estudo também foi comentado em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o nosso podcast, em formato de pílulas.  Confira:

 

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Análise de pacientes brasileiros com carcinoma espinocelular de lábio, cavidade oral e orofaringe aponta fatores determinantes da doença

Estudo avaliou os dados clínico-patológicos de 12.099 pacientes com lesões de lábio, cavidade oral e orofaringe através de informações obtidas por meio de registros hospitalares de câncer da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP), entre 2010 a 2015.

 

O artigo dos pesquisadores brasileiros “Epidemiology and survival outcomes of lip, oral cavity, and oropharyngeal squamous cell carcinoma in a southeast Brazilian population”, publicado na revista científica Medicina Oral, Patologia Oral, Cirugia Bucal apresenta detalhes do perfil epidemiológico de pacientes do sudeste brasileiro.

 

As análises foram realizadas com o software SPSS versão 22.0 (IBM Corporation, Armonk, NY, EUA). Para o estudo, foram verificados os dados qualitativos e quantitativos, enquanto o método de Kaplan-Meier foi usado para estimar as taxas de sobrevida. As informações são oriundas de 76 registros hospitalares de câncer (HCRs) do Estado de São Paulo. Entre eles, os pesquisadores encontraram um total de 368.116 casos de câncer no período entre 2010 e 2015. Destes, 12.099 pacientes foram diagnosticados com carcinoma espinocelular (CEC) de lábio, cavidade oral e orofaringe.

 

A convidada pelo GBCP para comentar a pesquisa é a Dra. Maria Paula Curado, chefe do Grupo de Epidemiologia e Estatística em Câncer (GEECAN) e do Centro Internacional de Pesquisa (CIPE) do A.C.Camargo Cancer Center. Segundo Maria Paula, “alguns fatores determinantes ficaram claros durante a pesquisa como o nível de escolaridade, estadiamento da doença e a faixa etária”.

 

Os dados recuperados do FOSP mostraram que o CEC labial, carcinoma oral de células escamosas (OSCC) e carcinoma orofaríngeo de células escamosas (OPSCC) responderam por 8,3 (998 casos), 44,6 (5.398 casos) e 47,1% (5.705 casos) dos casos avaliados, respectivamente.  Observou-se uma clara predominância do sexo masculino, sobretudo nos doentes com CEC de orofaringe (88,3%).

 

A média de idade dos pacientes foi maior para casos de lábio (65 ± 13,5 anos) em comparação com outros locais. O nível de escolaridade foi baixo para a maioria dos pacientes, principalmente nos lábios (87,9%). A maioria dos pacientes com CEC de cavidade oral (71,8%) e orofaringe (86,3%) apresentava doença em estágio avançado (III-IV). No entanto, a maioria dos casos de lábio (83,3%) foi em um estágio inicial (I-II). A excisão cirúrgica foi o principal tratamento para o CEC de lábio (72%) e cavidade oral (23,5%) e a quimiorradioterapia foi o principal tratamento para o CEC de orofaringe (40,2%). A sobrevida global (SG) em 5 anos para pacientes com CEC de lábio, cavidade oral e orofaringe foi de 66,3, 30,9 e 22,6%, respectivamente.

 

OUÇA O PODCAST COM O COMENTÁRIO DA DRA. MARIA PAULA CURADO

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Referência do estudo

Louredo BV, Vargas PA, Pérez-de-Oliveira ME, Lopes MA, Kowalski LP, Curado MP. Epidemiology and survival outcomes of lip, oral cavity, and oropharyngeal squamous cell carcinoma in a southeast Brazilian population. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2022 May 1;27(3):e274-e284.

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Estudo sugere que quimioterapia de indução antes da quimiorradioterapia melhora a sobrevida em pacientes com carcinoma de nasofaringe

O carcinoma nasofaríngeo é o tipo de câncer predominante que surge na nasofaringe, a passagem tubular atrás da cavidade nasal que se conecta à orofaringe abaixo. A quimioterapia de indução com gencitabina e cisplatina mostrou resultados promissores no tratamento padrão do carcinoma de nasofaringe. Foi o que demonstrou o estudo multicêntrico e randomizado na fase 3, “Final Overall Survival Analysis of Gemcitabine and Cisplatin Induction Chemotherapy in Nasopharyngeal Carcinoma: A Multicenter, Randomized Phase III Trial”, publicado no Journal of Clinical Oncology.

A pesquisa analisou 480 pacientes de 12 centros na China, de dezembro de 2013 a setembro de 2016. Observou-se que aqueles designados para serem tratados com quimiorradioterapia concomitante isolada ou indução com gencitabina e quimioterapia com cisplatina antes da quimiorradioterapia concomitante, tiveram uma análise de sobrevida em cinco anos maior do que aqueles que não passaram pelo mesmo tratamento.

Os participantes foram aleatoriamente designados para receber gencitabina associada com cisplatina e quimiorradioterapia ou quimiorradioterapia isolada. O desfecho primário foi sobrevida livre de recorrência e os desfechos secundários foram sobrevida global e segurança. 

Convidada pelo GBCP para comentar a pesquisa, a oncologista clínica  Dra. Iara Lustosa, da Santa Casa de Campo Grande (MS), aponta que esse resultado forneceu dados de eficácia e segurança de grande relevância prática, fomentando o que já vem sendo feito na pratica clínica como tratamento padrão neste cenário: “O estudo mostrou que quimioterapia de indução nos tumores de nasofaringe estádios III e IV, virgens de tratamento, aumentou a sobrevida global dos pacientes em 5 anos em 9,1%, e reduziu o risco relativo de morte em 49%”, esclarece.

 

Detalhes da pesquisa

Para o desenvolvimento da pesquisa, no estudo de fase 2, como bem ressalta Dra. Iara Lustosa, existia o receio “de que aproximar um esquema com gencitabina pelo potencial radiosensibilizante da droga, pudesse implicar em uma toxicidade limitante a radioterapia”. Também havia, segundo ela, a preocupação de que uma dose cumulativa de cisplatina a partir de 240 mg/m², previamente à concomitância, pudesse comprometer a aderência ao tratamento de cisplatina concomitante a radioterapia e, consequentemente, levar a uma maior falha no controle da doença. Mas, como evidencia o estudo, 96,7% dos pacientes conseguiram concluir os três ciclos da indução. “Embora a indução possa atrasar o início da radioterapia, isto não se refletiu em um pior controle local”, afirma a oncologista.

Por fim, a pesquisa concluiu que a quimioterapia de indução ofereceu melhor sobrevida livre de recorrência e sobrevida global em pacientes com carcinoma de nasofaringe. Na opinião da especialista, “é um esquema com drogas disponíveis no sistema público de saúde, que não requer infusão continua ou internação, com perfil de toxicidade manejável”.  Mais uma contribuição científica para a prática nos hospitais pelo mundo.

 

Referência do estudo

YUAN ZHANG, MD; et al. Final Overall Survival Analysis of Gemcitabine and Cisplatin Induction Chemotherapy in Nasopharyngeal Carcinoma: A Multicenter, Randomized Phase III Trial. Journal of Clinical Oncology, 2022.

 

Disponível em:

https://ascopubs.org/doi/abs/10.1200/JCO.22.00327

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Estudo sugere que pode não haver necessidade de uso de radioiodo após tireoidectomia em pacientes com câncer de tireoide de baixo risco

Financiado pelo Instituto Nacional do Câncer da França, um estudo prospectivo, randomizado, de fase 3, intitulado Thyroidectomy without Radioiodine in Patients with Low-Risk Thyroid Cancer, apontou que nenhum uso de radioiodo foi não inferior à ablação com radioiodo na ocorrência de eventos funcionais, estruturais ou biológicos entre pacientes submetidos à tireoidectomia (remoção cirúrgica de parte ou de toda a glândula tireoide) para tratamento diferenciado de baixo risco de câncer de tireoide. O texto foi publicado na revista científica The New England Journal of Medicine.

 

Nesta pesquisa, liderada pela especialista em endocrinologia, medicina nuclear e Oncologia Sophie Leboulleux do Gustave Roussy, da Universidade de Paris, na França, participaram 730 pacientes, que foram avaliados entre maio de 2013 e março de 2017. No experimento, a porcentagem de participantes sem evento adverso foi de 95,6% no grupo sem radioiodo e 95,9% no grupo do radioiodo, uma diferença de -0,3 pontos percentuais, resultado que atendeu aos critérios de não inferioridade.

 

“O estudo mostrou que os desfechos relacionados à recorrência de doença foram semelhantes nos grupos que foram tratados com iodoterapia para ablação de remanescentes com baixa dose e naqueles que não foram tratados. O objetivo foi mostrar a não inferioridade de um tratamento em relação ao outro. Na prática clínica, isso nos respalda para tratar pacientes de baixo risco apenas com cirurgia e evitar a iodoterapia desnecessária”, analisa a endocrinologista Dra. Fernanda Vaisman, pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e professora do Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), convidada pelo GBCP para comentar essa pesquisa.

 

O que levou ao estudo?

A maioria dos pacientes com câncer de tireoide tem baixo risco de recorrência e o risco de morte relacionada ao câncer é ainda menor. Os autores escreveram que há um consenso para evitar a administração de radioiodo em pacientes com microcarcinoma unifocal (um tumor pequeno e localizado).

Como há ausência de estudos prospectivos que abordem essa questão, tem sido utilizado como argumento a favor a recomendação do uso de radioiodo em todos os pacientes com câncer de tireoide de baixo risco. Contudo, para avaliar o tratamento com radioiodo (iodo-131) em pacientes com câncer diferenciado de tireoide de baixo risco, estes foram submetidos à tireoidectomia, recebendo tratamento pós-operatório com radioiodo. O grupo controle não recebeu radioiodoterapia. Os pesquisadores definiram “não inferioridade” nas diferenças de resultado entre o grupo que recebeu tratamento com iodo e como menos de 5% dos pacientes do grupo controle com diferença de menos de 5 pontos percentuais em eventos que requerem tratamento subsequente.

 

Os resultados mostram, segundo a análise da Dra. Fernanda Vaisman, que a principal contribuição desta pesquisa é a possibilidade de tratar pacientes de baixo risco apenas com cirurgia, sem necessidade de iodoterapia.

Referência do estudo

LEBOULLEUX, Sophie; et al. Thyroidectomy without Radioiodine in Patients with Low-Risk Thyroid Cancer. The New England Journal of Medicine, 2022.

Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2111953

 

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Terapia de manutenção com capecitabina melhora quadro de pacientes com carcinoma de nasofaringe (NPC) metastático, aponta estudo

Um estudo aberto e randomizado de fase 3 realizado no Centro de Câncer da Universidade Sun Yat-sen (SYSUCC), na China, investigou a eficácia da terapia de manutenção com capecitabina entre pacientes com carcinoma de nasofaringe (NPC) metastático. No experimento foi observada uma melhora da sobrevida, associada às toxicidades gerenciáveis. Esta é a conclusão da pesquisa Effect of Capecitabine Maintenance Therapy Plus Best Supportive Care vs Best Supportive Care Alone on Progression-Free Survival Among Patients With Newly Diagnosed Metastatic Nasopharyngeal Carcinoma Who Had Received Induction Chemotherapy A Phase 3 Randomized Clinical Tria, publicado na revista científica JAMA Oncology.

A análise incluiu 104 pacientes, com idade mediana de 47 anos, sendo 80,8% homens, com carcinoma nasofaríngeo metastático recém-diagnosticado. Realizado de 16 de maio de 2015 a 9 de janeiro de 2020, foi observado um benefício absoluto em sobrevida livre de progressão mediana de 27,7 meses. Os dados de sobrevida global ainda são imaturos, mas já se observa uma tendência de benefício. Na pesquisa, em relação à progressão da doença ou morte, foram 23 eventos (44,2%) no grupo de manutenção com capecitabina e 37 eventos (71,2%) no grupo de melhor cuidado de suporte sozinho.

Os eventos adversos de grau 3 ou 4 mais comuns durante a terapia de manutenção foram anemia (6 de 50 [12,0%]), síndrome mão-pé (5 de 50 [10,0%]), náuseas e vômitos (3 de 50 [6,0%]), fadiga (2 de 50 [4,0%]) e mucosite (2 de 50 [4,0%]). Nenhuma morte no grupo de manutenção foi considerada relacionada ao tratamento.

 

Tratamento com capecitabina

Para avaliar esses resultados, o oncologista clínico Dr. Leonardo Boente, da CLION /Oncoclínicas, comenta o estudo a convite do GBCP. Ele acredita que “é um tratamento promissor, facilmente acessível e com boa relação custo-benefício”. Lembrando que a capecitabina é frequentemente incluída em regimes de quimioterapia, mas que este é o primeiro ensaio clínico randomizado de fase 3 que investiga a eficácia da terapia de manutenção com capecitabina em pacientes com NPC metastático diagnosticado, após 4 a 6 ciclos de quimioterapia de indução de TPC.

Ainda na opinião do oncologista, a capecitabina apresenta indicação em diversas neoplasias e as toxicidades reveladas são consistentes com as observadas em outros cenários. “São manejáveis com ajuste de dose e a minoria dos pacientes necessita interromper o tratamento por toxicidade. Portanto, apresenta um perfil de segurança favorável”, esclarece.

Para ser possível atingir os melhores resultados, o médico oncologista alerta para a população selecionada no estudo, que excluiu pacientes com mais de 65 anos. Logo, esses resultados não podem ser generalizados para pacientes mais idosos. Os pesquisadores também ressaltam serem necessários mais investigações para definir a duração ideal da manutenção com capecitabina e identificar os indivíduos que podem se beneficiar com a terapia de manutenção.

 

Referência do estudo
LIU, Guo-Ying; et al. Effect of Capecitabine Maintenance Therapy Plus Best Supportive Care vs Best Supportive Care Alone on Progression-Free Survival Among Patients With Newly Diagnosed Metastatic Nasopharyngeal Carcinoma Who Had Received Induction Chemotherapy. JAMA Network, 2022.

Disponível em:
https://jamanetwork.com/journals/jamaoncology/article-abstract/2789163

 

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Orientação multiprofissional reduz permanência hospitalar após cirurgia oncológica de cabeça e pescoço, aponta estudo

Avaliações e orientações pré-operatórias fornecidas por uma equipe multiprofissional ao paciente com câncer avançado de cabeça e pescoço podem reduzir significativamente a gravidade das complicações, tempo de internação e custos de pacientes submetidos a cirurgias complexas. Essa é a conclusão do estudo retrospectivo de caso-controle Association of Multiprofessional Preoperative Assessment and Information for Patients With Head and Neck Cancer With Postoperative Outcomes, publicado na revista científica JAMA Otolaryngology–Head & Neck Surgery.

A adoção do protocolo de um dia dedicado à informação e avaliação multiprofissional pré-operatória abrangente (MUPAID) incluiu 161 pacientes, dos quais 81 (50,3%) estavam no grupo de intervenção e (49,7%) no grupo controle. O estudo foi realizado no Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço no Hospital Universitário de Berna, na Suíça. O acompanhamento ocorreu de janeiro de 2012 a julho de 2018 – antes (grupo controle) e depois (grupo de intervenção) – para implementação do MUPAID institucional. Já a análise dos dados foi realizada entre 2019 e 2020.

Os resultados apresentados por este estudo mostram que os pacientes que receberam orientações estruturadas por uma equipe multiprofissional no período pré-operatório, quando comparados com aqueles que não foram submetidos a esta abordagem, apresentaram menos complicações locais e sistêmicas, tempo de internação hospitalar e redução de custos por caso. Tudo isso por apresentaram melhor adesão ao tratamento, além de um preparo psicológico para enfrentamento de sua nova condição, e melhor adesão aos cuidados pós-operatórios.

Na análise multivariada dos fatores associados ao desenvolvimento de complicações, o MUPAID foi associado a uma redução de quase 60% em complicações em comparação com o grupo controle. Ainda, segundo os pesquisadores, nenhum estudo anterior relatou a associação de uma intervenção pré-operatória comparável ao MUPAID com a gravidade das complicações pós-operatórias, embora os autores sugiram tratamento mais adequado para cada paciente devido ao longo período observacional.

 

Realidade clínica no Brasil

Convidada pelo GBCP para comentar este estudo, a enfermeira oncológica Renata Otoni Neiva afirma que desconhece a prática de avaliações estruturadas desta maneira nos centros oncológicos do Brasil, exceto pelo A.C.Camargo Cancer Center, onde atua. Na avaliação da enfermeira, “no local são realizadas orientações pré-operatórias ao paciente elegível a cirurgia oncológica de grande porte de cabeça e pescoço. Conforme a elegibilidade, o médico cirurgião encaminha estes pacientes para avaliações e orientações pré-operatórias com equipe de enfermagem, estomatologia e nutricionista”, explica.

Segundo Renata, o que difere do estudo são as avaliações realizadas por equipe multidisciplinar, que ocorrem conforme a agenda disponível das equipes, não sendo necessariamente em um único dia. Quando apoderado de informações claras o paciente envolve-se mais no seu cuidado, e entende que sua colaboração contribui para uma melhor recuperação e reabilitação após a cirurgia.  A profissional conclui que conhecer os resultados pós-operatórios apresentados estimula a implementação desta prática nas instituições oncológicas, visto a evidência de melhores desfechos clínicos e desempenho apresentados por estes pacientes. Porém, ela alerta: “também é necessário que uma assistência multidisciplinar pós-operatória contemple holisticamente suas necessidades, pois é um período de adaptações funcionais decorrentes das possíveis sequelas geradas pela cirurgia, além de alterações estéticas significativas que podem impactar na autoestima e convívio social”, avalia.

 

Referência do estudo

Schmid M, Giger R, Nisa L, Mueller SA, Schubert M, Schubert AD. Association of multiprofessional preoperative assessment and information for patients with head and neck cancer with postoperative outcomes. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. 2022;148(3):259-267.

Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamaotolaryngology/article-abstract/2788229

 

 

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Reduzir dose e volume de radioterapia pode beneficiar pacientes com câncer de orofaringe HPV positivo, aponta estudo

A redução substancial na dose e no volume da radioterapia eletiva pode trazer resultados benéficos na redução da toxicidade sem comprometer o controle tumoral locorregional em pacientes com carcinoma de orofaringe associado ao papilomavírus humano (HPV) tratados com quimioterapia definitiva. Esta é a conclusão do estudo Evaluation of Substantial Reduction in Elective Radiotherapy Dose and Field in Patients With Human Papillomavirus–Associated Oropharyngeal Carcinoma Treated With Definitive Chemoradiotherapy, publicado na revista JAMA Oncology.

Neste estudo, a redução do volume e dose de radioterapia de 30 Gy para as regiões eletivas, com quimioterapia concomitante, foi uma abordagem associada a uma taxa de controle locorregional de 24 meses de 97,0% e sobrevida global de 95,1%. O resultado foi obtido a partir de uma coorte de 276 pacientes com carcinoma de orofaringe localmente avançado, positivo para HPV. A conclusão dos autores com esses achados é que a redução maior da radioterapia em regiões eletivas foi viável, mantendo o controle do tumor locorregional.

Convidado pelo GBCP para comentar este estudo, Dr. Douglas Guedes de Castro, radio-oncologista do A.C.Camargo Cancer Center, destaca que tendo em vista o prognóstico mais favorável dos pacientes com câncer da orofaringe associados ao HPV, as estratégias de desescalonamento para reduzir toxicidade e melhorar qualidade de vida têm sido bastante testadas, seja com redução da dose e volume da radioterapia ou com modificação do tratamento sistêmico.

Ele explica que, neste caso em particular, demonstrou-se que os resultados precoces em dois anos, de controle locorregional e sobrevida global, foram similares aos observados com a radioterapia considerada padrão. “É uma sinalização de que o desescalonamento com redução da dose e volume da radioterapia é seguro nesse grupo de pacientes”, afirma.

Resultado ainda não muda a conduta

Embora o desescalonamento tenha se mostrado seguro no grupo de pacientes pesquisado, Dr. Castro avalia que sendo um estudo retrospectivo e com resultados iniciais (dois anos), ainda não é possível considerá-lo para adoção da prática. Ele ressalta que é preciso aguardar resultados de longo prazo (cinco anos) e prospectivos, para a confirmação da não-inferioridade dos desfechos de controle e sobrevida com essa estratégia de desescalonamento.

Na avaliação do especialista, o principal benefício para os pacientes, uma vez que se confirmem os resultados positivos de controle e sobrevida em longo prazo, será a redução da toxicidade aguda e tardia e melhora da qualidade de vida após radioterapia concomitante à quimioterapia.

Referência de estudo:

C. Jillian Tsai, MD, PhD; Sean M. McBride, MD, MPH; Nadeem Riaz, MD, MS; e outrosJung J. Kang, MD, PhD1; Daniel J. Spielsinger, BS; Todd Waldenberg, BS; Daphna Gelblum, MD; Yao Yu, MD; Linda C. Chen, MD; Kaveh Zakeri, MD; Richard J. Wong, MD, PhD; Lara Dunn, MD; David G. Pfister, MD; Eric J. Sherman, MD; Nancy Y. Lee, MD
JAMA Oncol. 2022;8(3):364-372. doi:10.1001/jamaoncol.2021.6416

Disponível em:

https://jamanetwork.com/journals/jamaoncology/article-abstract/2788326

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