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Categoria : Publicações Científicas

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Ensaio clínico de fase II avalia Axitinibe e Avelumabe para pacientes com carcinoma adenóide cístico recorrente/metastático

O carcinoma adenóide cístico afeta principalmente as glândulas salivares e não possui um tratamento padrão, sendo considerado um câncer que muitas vezes se comporta de forma imprevisível, difícil de tratar e também de alta probabilidade de recorrência. O artigo “Phase II Clinical Trial of Axitinib and Avelumab in Patients With Recurrent/Metastatic Adenoid Cystic Carcinoma”, publicado na revista internacional Journal of Clinical Oncology (JCO), apresentou o resultado de fase II que avalia a eficácia do inibidor de VEGFR (axitinibe) e do inibidor de PD-L1 (avelumabe) em pacientes com carcinoma adenoide cístico recorrente/metastático. No ensaio, 28 pacientes avaliáveis com progressão da doença nos últimos seis meses foram inscritos no MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas entre julho de 2019 e junho de 2021.

O trabalho mostra que o axitinibe pode parar o crescimento de células tumorais bloqueando algumas das enzimas necessárias para o crescimento celular e o avelumabe demonstrou, em modelos pré-clínicos, ativar os sistemas imunológicos inato e adaptativo. Para a análise, os pacientes receberam axitinibe duas vezes ao dia e avelumabe em dias 1 e 15 de ciclos de 28 dias.

A sobrevida livre de progressão mediana foi de 7,3 meses, a taxa de seis meses foi de 57% e a sobrevida global mediana foi de 16,6 meses. Os eventos adversos relacionados ao tratamento (TRAEs) mais comuns incluíram fadiga (62%), hipertensão (32%) e diarreia (32%). Dez (29%) pacientes tiveram TRAEs graves, todos de grau 3; quatro pacientes (12%) descontinuaram o avelumabe e nove pacientes (26%) foram submetidos à redução da dose de axitinibe. Um total de 9 pessoas (26%) necessitou de redução da dose de axitinibe e quatro pacientes (12%) descontinuaram o avelumabe.

Os pacientes tiveram um tempo médio de acompanhamento de 22 meses. A mediana de sobrevida livre de progressão e sobrevida global foi de 7,3 meses e 16,6 meses, respectivamente.  Uma das autoras da pesquisa, Renata Ferrarotto, Professora Associada e diretora de Pesquisa Clínica em Oncologia de Cabeça e Pescoço do Departamento de Medicina Torácica/Cabeça e Pescoço do MD Anderson Cancer Center, comenta os esforços e resultados nessa fase da análise. “A taxa de resposta foi de 18% e foi um estudo positivo, de resposta confirmada. Tivemos um terço dos pacientes que progrediu. E outro ponto importante foi em relação à toxidade, que foi o que esperávamos para cada agente individual”, explica.

Toda a temática também foi comentada em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.

CONFIRA:

https://open.spotify.com/episode/4ejaVMOLVDNesryQmd7gvi

Referência do estudo

Ferrarotto R, Sousa LG, Feng L, Mott F, Blumenschein G, Altan M, Bell D, Bonini F, Li K, Marques-Piubelli ML, Dal Lago EA, Johnson JJ, Mitani Y, Godoy M, Lee A, Kupferman M, Hanna E, Glisson BS, Elamin Y, El-Naggar A. Phase II Clinical Trial of Axitinib and Avelumab in Patients With Recurrent/Metastatic Adenoid Cystic Carcinoma. J Clin Oncol. 2023 May 20;41(15):2843-2851.

Disponível em:

<https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/JCO.22.02221?role=tab>

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Metanálise internacional sugere discordância em análise de expressão de p16 e HPV

A incidência de câncer de orofaringe em todo o mundo tem aumentado desde 2000, principalmente devido a um aumento na doença mediada pelo HPV (papilomavírus humano). Nesse sentido, o teste imuno-histoquímico da expressão de p16 para avaliação do status do HPV tem sido muito utilizado nos últimos anos, assim como o teste de HPV. Porém, uma análise com quase 8 mil pacientes, publicada em fevereiro na Revista Lancet, apontou que nem todos os cânceres de orofaringe p16-positivos são causados ​​pelo vírus HPV. Cerca de até 20% dos cânceres p16-positivos não detectam DNA ou RNA do vírus.

Os dados são do estudo “Prognostic implications of p16 and HPV discordance in oropharyngeal cancer (HNCIG-EPIC-OPC): a multicentre, multinational, individual patient data analysis”. Nele, pesquisadores europeus revisaram estudos com pacientes com câncer de orofaringe do Reino Unido, Canadá, Dinamarca, Suécia, França, Alemanha, Holanda, Suíça e Espanha.

A idade média dos participantes foi de 60 anos, 74,7% eram homens e 78,8% tinham doença localmente avançada. Os investigadores desta análise multicêntrica e internacional utilizaram dados de pacientes individuais. Eles realizaram uma pesquisa bibliográfica no banco de dados PubMed e Cochrane para revisões sistemáticas e estudos originais publicados em inglês entre 1º de janeiro de 1970 e 30 de setembro de 2022.

Foi percebido que há um número significativo de pessoas com resultados ‘discordantes’, nos quais os dois testes diferentes para HPV apresentam conclusões diferentes. No geral, 3,8% dos pacientes tinham câncer p16-negativo/HPV-positivo, 5,4% tinham doença p16-positivo/HPV-negativo, 44,3% tinham doença duplamente positiva e 46,5% tinham doença duplamente negativa.

Ainda foi observado que a sobrevida global de cinco anos foi de 81% entre testes duplos positivos, 53% para pacientes com teste p16-/HPV+ e 54% para pacientes com testes p16+/HPV- para pacientes. Além disso, a sobrevida livre de doença em cinco anos foi de 84,3%, 60,8%, 71,1% e 67,9%, respectivamente. Conforme os resultados apontados, os pesquisadores sugerem o teste de imuno-histoquímica de p16 de rotina e o teste de HPV devem ser obrigatórios para ensaios clínicos para todos os pacientes (ou pelo menos após um teste de p16 positivo).

Para avaliar esses dados, o convidado pelo GBCP é o médico patologista Leonard Medeiros, da OncoClínicas Precision Medicine. “É um estudo interessante e complexo. Porém, quando olhamos para décadas atrás e com metodologias diversas, é difícil comparar. Em alguma dessas análises, o P16 foi feito de forma manual e isso faz diferença.  Outro ponto são as técnicas moleculares. Elas evoluíram. O que foi detectado no passado não necessariamente seria observado hoje”, pontua.

Mas o médico patologista concorda com uma das conclusões que, dependendo do cenário, é necessária a realização dos dois testes: “Mas acho que isso deve ser discutido caso por caso e não de uma forma genérica”, conclui. A pesquisa foi financiada pela Cancer Research UK, pelo National Institute for Health and Care Research e pelo Medical Research Council e reuniu colaboradores de toda a Europa.

Ela também foi comentada em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP. Confira:

https://open.spotify.com/episode/5QKlV25rQjInMZ6lrNDPdW

Referência

Mehanna H, Taberna M, von Buchwald C, et al. Prognostic implications of p16 and HPV discordance in oropharyngeal cancer (HNCIG-EPIC-OPC): A multicentre, multinational, individual patient data analysis. Lancet Oncol. Published online February 13, 2023. doi:10.1016/S1470-2045(23)00013-X.

Disponível em:

https://www.thelancet.com/journals/lanonc/article/PIIS1470-2045(23)00013-X/fulltext

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Estudo aponta que óleo cannabidiol não reduz desconforto de sintomas de pacientes oncológicos em cuidados paliativos

O óleo cannabidiol (CBD) não agregou valor à redução do desconforto dos sintomas de pacientes oncológicos em cuidados paliativos. A conclusão é de estudo australiano, multicêntrico, publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO). Os participantes eram adultos com câncer avançado e sintomas de angústia, que receberam óleo CBD em diferentes esquemas de prazos e dosagens por 28 dias.

Para o estudo Phase IIb Randomized, Placebo-Controlled, Dose-Escalating, Double-Blind Study of Cannabidiol Oil for the Relief of Symptoms in Advanced Cancer (MedCan1-CBD) foram designados aleatoriamente 144 pacientes elegíveis. O desfecho primário foi o sofrimento total dos sintomas da ESAS -Edmonton Symptom Assessment Scale e pontuação (TSDS) no 14º dia. A resposta foi definida como uma diminuição no TSDS entre o 6º e 14º dia. Os resultados secundários foram ESAS TSDS ao longo do tempo, escores de sintomas individuais, dose efetiva determinada pelo paciente, uso de opioides, impressão de mudança global, depressão, ansiedade, qualidade de vida e eventos adversos.

Dos 144 pacientes designados aleatoriamente, o tamanho planejado da amostra de 58 participantes em CBD e 63 que receberam placebo atingiu o ponto de análise primário (dia 14).  Todos os componentes do ESAS melhoraram (caíram) ao longo do tempo, sem diferença entre os braços. A dose média de CBD selecionada pelo participante foi de 400 mg por dia sem correlação com a dose de opioides. Não houve efeito detectável do CBD na qualidade de vida, depressão ou ansiedade. Os eventos adversos não diferiram significativamente entre os braços, exceto a dispneia, que foi mais comum com o CBD. A maioria dos participantes relatou sentir-se melhor

Para comentar este trabalho, a convidada pelo GBCP é a médica paliativista Fabiana Gomes de Campos, do Departamento de Cuidados Paliativos do A.C.Camargo Cancer Center. Em sua avaliação, os pesquisadores optaram por usar uma molécula isolada e elas se combinam e se ligam aos diferentes receptores. “Dependendo da molécula que se juntou e se ligou a determinado receptor, ele desencadeia ações, o que pode impactar no resultado”, explica.

Embora tenha havido um entusiasmo significativo no uso de cannabis como tratamento médico, este estudo controlado randomizado de óleo não encontrou nenhum benefício em relação ao tratamento padrão. Por isso, os autores concluíram que o óleo de CBD não agregou valor à redução do desconforto dos sintomas, fornecida apenas pelos cuidados paliativos especializados.

Toda a pesquisa também foi comentada em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.

Confira:

https://open.spotify.com/episode/6jecRRBSPwhajeK3Nt0FUs

Referência do estudo

Hardy J, Greer R, Huggett G, Kearney A, Gurgenci T, Good P. Phase IIb Randomized, Placebo-Controlled, Dose-Escalating, Double-Blind Study of Cannabidiol Oil for the Relief of Symptoms in Advanced Cancer (MedCan1-CBD). J Clin Oncol. 2023 Mar 1;41(7):1444-1452. 

Disponível em:

https://ascopubs.org/doi/pdf/10.1200/JCO.22.01632?role=tab

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Com sensibilidade de 100% e especificidade acima de 90%, testes moleculares mostram alta acurácia diante de nódulos de tireoide

Com mais de 14 mil casos previstos para 2023 no Brasil, os tumores malignos na glândula tireoide representam o quinto câncer mais incidente nas brasileiras. O desafio está em determinar quais são as lesões que demandam intervenções mais agressivas. Para tanto, é importante classificar com precisão os nódulos tireoidianos, evitando assim que pacientes sejam, por exemplo, operados “desnecessariamente” para um nódulo benigno.

Com a proposta de explorar o novo valor diagnóstico de biomarcadores de impressão epigenética em nódulos tireoidianos, os autores do estudo multicêntrico chinês “High Diagnostic Accuracy of Epigenetic Imprinting Biomarkers in Thyroid Nodules”, publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO), apresentou evidências da acurácia para o diagnóstico de câncer de tireoide por meio de hibridização in situ de genes imprintados cromogênicos quantitativos (QCIGISH), um método de diagnóstico inovador e revolucionário, baseado em epigenética.

A hibridização foi usada para avaliar a expressão alélica dos genes imprintados SNRPN e HM13, com base nos quais foi desenvolvido um modelo de classificação diagnóstica para nódulos tireoidianos. No total, foram recrutados consecutivamente – em oito centros médicos – 550 pacientes, submetidos à aspiração por agulha filha (PAF) para confirmação histopatológica de nódulos da tireoide.

Os resultados mostraram que, para malignidade da tireoide, o teste QCIGISH alcançou uma sensibilidade diagnóstica geral de 100%, especificidade de 91,5%, valor preditivo positivo (VPP) de 96,5% e valor preditivo negativo (VPN) de 100% na validação prospectiva, com acurácia diagnóstica de 97,5%. O QCIGISH demonstrou um VPP de 97,8% e VPN de 100%, com uma precisão diagnóstica de 98,2% para nódulos indeterminados de tireoide. O QCIGISH apresentou também um VPP de 96,6% e um VPN de 100%, com uma precisão diagnóstica de 97,5 para Bethesda III-IV. Para Bethesda VI, o QCIGISH mostrou uma precisão de 100%.

Alto custo é entrave

Para comentar o estudo, o convidado pelo GBCP é o médico endocrinologista Helton Ramos, doutor em endocrinologia pela UNIFESP, pesquisador de pós-doutorado em Endocrinologia e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA): “O principal ganho foi avaliar através de uma metodologia nova. Só que um teste de diagnóstico molecular nem sempre é necessário. Com avaliação citológica bem feita, não precisamos utilizá-lo até mesmo nos nódulos com citologia indeterminada”, pontua. Para Ramos, esses testes têm um alto custo no mercado.

Independentemente do alto custo, os autores reforçam que a metodologia baseada em biomarcadores de imprinting, pode efetivamente distinguir nódulos tireoidianos malignos de benignos. Segundo eles, o alto VPP e NPV tornam o teste uma excelente ferramenta de diagnóstico de inclusão e exclusão. Terá, afirmam, um impacto clínico significativo, ao mesmo tempo que exclui pacientes de cirurgias ou outros tratamentos desnecessários. Além disso, com tal desempenho diagnóstico e sua simplicidade técnica, este novo teste molecular da tireoide se mostra clinicamente amplamente aplicável.

Toda a pesquisa também foi comentada em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.

Confira:

https://open.spotify.com/episode/2i2E3REAs977fSWLu7kgaJ

Referência do estudo

Xu H, Zhang Y, Wu H, Zhou N, Li X, Pineda JP, Zhu Y, Fu H, Ying M, Yang S, Bao J, Yang L, Zhang B, Guo L, Sun L, Lu F, Wang H, Huang Y, Zhu T, Wang X, Wei Q, Sheng C, Qu S, Lv Z, Xu D, Li Q, Dong Y, Qin J, Cheng T, Xing M. High Diagnostic Accuracy of Epigenetic Imprinting Biomarkers in Thyroid Nodules. J Clin Oncol. 2023 Feb 20;41(6):1296-1306. doi: 10.1200/JCO.22.00232. Epub 2022 Nov 15.

Disponível em:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9937101/pdf/jco-41-1296.pdf  

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Docetaxel associado à radioterapia aumenta sobrevida de pacientes inelegíveis para tratamento com cisplatina

Nos últimos anos, avanços significativos foram feitos no tratamento de câncer de cabeça e pescoço localmente avançado. Para os pacientes inelegíveis para a cisplatina devido à idade ou comorbidades médicas, resultados apontados no artigo “Results of Phase III Randomized Trial for Use of Docetaxel as a Radiosensitizer in Patients With Head and Neck Cancer, Unsuitable for Cisplatin-Based Chemoradiation”, publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO), em janeiro de 2023, mostram que a adição de docetaxel à radiação melhorou a sobrevida livre de doença de pacientes com carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (HNSCC).

Nesta pesquisa aberta e de centro único da Índia, o Tata Memorial Hospital, realizada entre julho de 2017 e maio de 2021, foram recrutadas 356 pessoas com HNSCC não metastático, localmente avançado e inelegível para tratamento com cisplatina na cavidade oral, orofaringe, laringe, hipofaringe ou carcinoma de origem primária desconhecida com linfonodos cervicais que requerem tratamento definitivo ou quimiorradiação adjuvante (após cirurgia).

Nesta amostra, 176 pacientes foram aleatoriamente designados para receber apenas radiação ou radiação em combinação com docetaxel (180 pacientes). O acompanhamento médio foi de 32,4 meses. A idade mediana foi de 63 anos no braço apenas com radiação e 61 anos no braço docetaxel. Na maioria, os pacientes eram homens (85% no braço apenas com radiação e 81,8% no braço docetaxel).

O tratamento com radiação e docetaxel resultou em uma taxa de sobrevida livre de doença (DFS) de dois anos de 42% em comparação com 30,3% apenas com radiação. Este benefício com docetaxel permaneceu consistente quando ajustado para fatores prognósticos conhecidos.

Para avaliar esses dados, o convidado pelo GBCP é o médico radio-oncologista Alexandre Arthur Jacinto, diretor de Ensino e Pesquisa da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) e titular do Hospital de Amor, em Barretos (SP), onde coordena o programa de Pós Graduação Lato Sensu. Em sua opinião, este é “um estudo relevante e que possivelmente impactará num direcionamento da conduta, trazendo alguma mudança prática na rotina.”

A princípio, estes são os primeiros dados baseados em evidência para o uso de quimioterapia concomitante em pacientes inelegíveis para cisplatina. Por isso, essa pesquisa possui um “potencial muito grande”, finaliza o médico radio-oncologista.

O estudo também foi comentado em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.

Confira:

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Referência do estudo

Patil VM, Noronha V, Menon N, Singh A, Ghosh-Laskar S, Budrukkar A, Bhattacharjee A, Swain M, Mathrudev V, Nawale K, Balaji A, Peelay Z, Alone M, Pathak S, Mahajan A, Kumar S, Purandare N, Agarwal A, Puranik A, Pendse S, Reddy Yallala M, Sahu H, Kapu V, Dey S, Choudhary J, Krishna MR, Shetty A, Karuvandan N, Ravind R, Rai R, Jobanputra K, Chaturvedi P, Pai PS, Chaukar D, Nair S, Thiagarajan S, Prabhash K. Results of Phase III Randomized Trial for Use of Docetaxel as a Radiosensitizer in Patients With Head and Neck Cancer, Unsuitable for Cisplatin-Based Chemoradiation. J Clin Oncol. 2023 May 1;41(13):2350-2361.

Disponível em:

https://ascopubs.org/doi/10.1200/JCO.22.00980?url_ver=Z39.882003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed

7807BAAB-6E55-4CDA-954E-CDABF7A6E248

Nivolumabe mais Ipilimumabe não melhorou sobrevida de pacientes com carcinoma de células escamosas da cabeça e pescoço, aponta estudo

Publicado em dezembro na revista científica Journal of Clinical Oncology, o estudo de fase III, randomizado e aberto, buscou comparar Nivolumabe associado com Ipilimumabe com o regime extremo como tratamento de primeira linha em pacientes com câncer de cabeça e pescoço de células escamosas metastático ou recorrente.

Contudo, os dados divulgados em “Nivolumab Plus Ipilimumab Versus EXTREME Regimen as First-Line Treatment for Recurrent/Metastatic Squamous Cell Carcinoma of the Head and Neck: The Final Results of CheckMate 651” não obtiveram resultado positivo.

Na conclusão da pesquisa intitulada CheckMate 651, os pesquisadores constataram que Nivolumabe mais Ipilimumabe de primeira linha não melhorou a sobrevida global de pacientes com carcinoma espinocelular recorrente ou metastático de cabeça e pescoço (SCCHN), em comparação com o regime EXTREME (cetuximabe mais cisplatina/carboplatina mais fluorouracilo ≤ 6 ciclos seguidos de manutenção com cetuximabe).

No estudo aberto, 947 pacientes com SCCHN recorrente ou metastático que não receberam nenhum tratamento sistêmico anterior foram designados aleatoriamente em uma base de 1 para 1 para receber Nivolumabe mais Ipilimumabe (n = 472) ou EXTREME (n = 475). No braço Nivolumabe mais Ipilimumabe, 39,2% tiveram pontuação positiva combinada PD-L1 (CPS) ≥ 20, em comparação com 37,5% no braço EXTREME. Os pontos finais primários deste estudo foram a sobrevida global em todas as populações aleatoriamente designadas e CPS ≥ 20.

A convidada pelo GBCP para comentar o trabalho é a oncologista Milena Perez Mak, médica clínica da OncoStar e uma das coautoras da pesquisa. Em sua avaliação, esse estudo infelizmente não foi positivo para a sobrevida global: “Teve um desenho estatístico bastante robusto e parte do pressuposto que o braço controle teria uma sobrevida de aproximadamente 10 meses e se atingiu a sobrevida mediana de 13,9 meses para o braço da imunoterapia combinada e 13,5 meses para o regime EXTREME”.

A oncologista ainda destaca que mesmo com essa conclusão, o que chamou a atenção foi um número alto de pacientes que completaram dois anos de tratamento no braço da imunoterapia isolada. Ela também destaca que “para o futuro é preciso avaliar qual seria a melhor subpopulação que se beneficiaria de uma intensificação da imunoterapia”.

Além disso, conclui que nesse momento não há como recomendar esse tratamento como uma terapia padrão. “O caminho para melhorar a resposta imuno dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço talvez não seja essa combinação, mas outras válidas nesse contexto”, diz.

Portanto, mais análises são necessárias para determinar a utilidade da imunoterapia dupla como uma opção de tratamento para SCCHN.

 

Referência

HADDAD, Robert I: et al. Nivolumab Plus Ipilimumab Versus EXTREME Regimen as First-Line Treatment for Recurrent/Metastatic Squamous Cell Carcinoma of the Head and Neck: The Final Results of CheckMate 651. J Clin Oncol, 2022.

Disponível em:

https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/JCO.22.00332

 

O tema também foi comentado em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o nosso podcast, em formato de pílulas.


Confira:


https://open.spotify.com/episode/44Dl3nIOJR10FxjphRru50?si=fb49f4899e5246c0

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Revisão sistemática apresenta correlação entre a extensão extranodal radiológica e patológica no câncer orofaríngeo associado ao HPV

As infecções por HPV de alto risco podem causar câncer nas partes do corpo onde as células são infectadas, como a orofaringe (trecho da garganta logo atrás da boca). O carcinoma espinocelular de orofaringe associado ao papilomavírus humano (HPV[+]OPSCC) requer mais pesquisas para otimizar o sistema de estadiamento clínico existente e orientar a seleção do tratamento.

Para aprofundar o tema, foi publicado em setembro na Wiley o estudo “Correlation between radiologic and pathologic extranodal extension in HPV-associated oropharyngeal cancer: Systematic review”, no qual pesquisadores realizaram uma revisão sistemática para compreender se o pré-tratamento da extensão extranodal (ENE) tem implicações clínicas significativas no carcinoma espinocelular de orofaringe (OPSCC) positivo para papilomavírus humano (HPV+).

Na metodologia utilizada, os critérios de inclusão foram identificados e selecionados com a ajuda de um bibliotecário científico, com data de corte de 18 de maio de 2021. A pesquisa foi realizada nos bancos de dados eletrônicos MEDLINE (PubMed), Embase (Ovid), Cochrane Central Register of Controlled Trials (via Cochrane Library), Web of Science e Scopus (apenas pesquisas em inglês fizeram parte).

Um total de 1772 citações foram recuperadas na busca inicial. Após a triagem dos títulos e resumos, seis estudos foram incluídos na revisão, sendo quatro elegíveis para metanálise e dois submetidos à síntese narrativa. 

A convite do GBCP para comentar esse estudo, a médica radiologista Dra. Gislaine Machado Porto, do Departamento de Diagnóstico por Imagem e do Centro de Referência de Tumores de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo Cancer Center, observa que “todos os pacientes tinham confirmação histopatológica nesses linfonodos suspeitos, o que é muito interessante”, afirma.

Segundo Dra. Gislaine, o grupo de pesquisa acertou em inserir pacientes que não haviam sido submetidos a uma terapia, quimioterapia ou radioterapia, porque alterações pós-terapêuticas podem confundir, principalmente as da gordura de pele linfodomodal – principal critério para avaliar se vai ter ou não extensão extracapsular. Mas ela alerta que “devido ao pequeno número de casos incluídos, não se conseguiu agrupar todas as diferentes modalidades na análise da metanálise”.

A especialista ainda observa que “a resposta para avaliar o melhor método em pacientes com câncer orofaríngeo associado ao HPV persiste em aberto”. A profissional conclui que este estudo tem um impacto ao reforçar a tomografia como um método muito bom de primeira escolha na avaliação de OPSCC. “É rápido, barato, disponível e tem um desempenho moderado regular pra avaliação a extensão extracapsular”, diz.

 

 

Referência do estudo

 

Morey T, Hodge J-C, Stern C, Krishnan S, Foreman A. Correlation between radiologic and pathologic extranodal extension in HPV-associated oropharyngeal cancer: Systematic review. Pescoço. 2022;44(12): 2875-2885. doi:10.1002/hed.2718.

 

O estudo também foi comentado em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o nosso podcast, em formato de pílulas.  Confira:

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Estudo traz classificação de tumores nasossinusais por meio de algoritmo de aprendizado de máquina baseado em padrões de metilação do DNA

Os tumores nasossinusais são muito raros e representam cerca de 2% de todas as neoplasias malignas. Sendo uma doença incomum, poucos estudos estão disponíveis para definir a melhor abordagem terapêutica. Pensando nisso, foi desenvolvida uma metodologia que resultou em pesquisa publicada em novembro na revista científica Nature Communications.

Intitulado DNA methylation-based classification of sinonasal tumors, o trabalho buscou trazer uma nova classificação dos tumores nasossinusais, ajudando a mudar a percepção atual dos carcinomas indiferenciados nasossinusais. Os pesquisadores utilizaram um algoritmo de aprendizado de máquina baseado em padrões de metilação do DNA para classificá-los com confiabilidade de grau clínico.

Para o estudo, foi coletado cortes de 395 tumores nasossinusais e diagnósticos diferenciais relevantes abrangendo 18 diferentes entidades definidas histologicamente. Já para testar se a classificação tumoral baseada na metilação do DNA para carcinomas indiferenciados nasossinusais (SNUCs) era aplicável, obtiveram cortes de 429 perfis de metilação do DNA de alta qualidade de tumores nasossinusais e tecido normal. Para a análise, um total de 18 classes epigenéticas distintas e estáveis ​​foram identificadas.

Os autores concluíram que tumores nasossinusais com morfologia SNUC não são tão indiferenciados quanto a terminologia atual sugere, mas sim reatribuída a quatro moléculas, de classes distintas, definidas por perfis epigenéticos, mutacionais e proteômicos.

Convidado pelo GPCP para comentar este estudo, o médico patologista do A.C.Camargo Cancer Center, Dr. Felipe D’Almeida Costa,  coordenador médico de Educação da Patologia da DASA e Vice-Presidente para Assuntos Acadêmicos da Sociedade Brasileira de Patologia, avalia a metodologia como revolucionária no auxílio de diagnóstico de alguns tipos de tumores. “Junto com a publicação desse artigo, vem também a disponibilidade online de um website para executar esse algoritmo de ventilação. Pode-se pegar os arquivos brutos e submeter no site www.aimethylation.com”, explica.

Ainda conforme Felipe, a metodologia empregada é robusta e “vai ajudar a classificar esses tumores, além de trazer uma precisão muito maior e direcionando os pacientes para o tratamento adequado”, esclarece.

No Brasil, algumas instituições estão utilizando o perfil de ventilação – mais voltada para a pesquisa, como é o caso da Universidade de São Paulo (USP). A DASA começou a fazer de forma comercial.

O médico patologista finaliza dizendo que este é um artigo desenhado e construído de uma forma muito interessante. “Eu realmente gostaria de ter a oportunidade de testar alguns casos, para executar algoritmos neles, até para testar se estamos fazendo diagnóstico destes tumores de forma correta”, pontua.

 

Referência do estudo

JURMEISTER, Philipp. DNA methylation-based classification of sinonasal tumors. Nature Communications, 2022.

Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-022-34815-3

 

 

O estudo também foi comentado em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o nosso podcast, em formato de pílulas. Confira: 

 

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Ensaio avaliou uso de cabecitabina adjuvante após quimiorradioterapia concomitante em pacientes com carcinoma nasofaríngeo avançado

A capecitabina é um medicamento que tem melhor toxidade com perfil de manejo mais palatável, aponta estudo publicado em outubro na revista científica JAMA Oncology. O trabalho multicêntrico chinês “Adjuvant Capecitabine Following Concurrent Chemoradiotherapy in Locoregionally Advanced Nasopharygeal Carcinoma”, avaliou o papel da capecitabina como terapia adjuvante em carcinoma nasofaríngeo.

 

A análise incluiu 180 pacientes, com 143 deles [79,4%] homens – com idade mediana de 47 [40-55] anos. Os pacientes foram recrutados de 31 de março de 2014 a 27 de julho de 2018 em três instituições na China, com pelo menos três anos de acompanhamento. A data de corte da coleta de dados foi 9 de fevereiro de 2022. Os pacientes foram aleatoriamente designados para receber Capecitabina (duas vezes ao dia por 14 dias, a cada 3 semanas, por 8 ciclos) ou observação após quimiorradioterapia a cada 3 semanas por 2 a 3 ciclos, dependendo da duração da radioterapia.

 

Para avaliar esses resultados, o convidado pelo GBCP é o oncologista clínico Daniel Oliveira Brito, membro da American Society of Clinical Oncology (ASCO) e médico titular do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB). Na opinião Daniel Brito, três pontos são importantes nessa pesquisa chinesa. “O estudo não levou em consideração a quimioterapia de indução, que já é uma realidade em pacientes com carcinoma de nasofaringe localmente avançado, principalmente em pacientes de alto risco”, explica. Brito ressalta que pacientes de 2014 a 2018 participaram da pesquisa e existem alguns estudos mais recentes, o que de alguma forma impacta na interpretação dos resultados para entender o benefício da terapia.

 

O oncologista aponta também para o benefício em sobrevida global. “Em outro estudo publicado ano passado, com capecetabina e em um regime metronômico, houve ganho de sobrevida global”, aponta. Por último, Dr. Daniel Brito afirma que existem poucos eventos para analisar uma população pequena, de 180 pacientes, assim como questiona se isso será utilizado na prática e qual é a população de fato que vai se beneficiar dessa estratégia.

 

Referência do estudo

Miao J, Wang L, Tan SH, Li JG, Yi J, Ong EHW, Tan LLY, Zhang Y, Gong X, Chen Q, Xiang YQ, Chen MY, Guo Y, Lv X, Xia WX, Tang L, Deng X, Guo X, Han F, Mai HQ, Chua MLK, Zhao C. Adjuvant Capecitabine Following Concurrent Chemoradiotherapy in Locoregionally Advanced Nasopharyngeal Carcinoma: A Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. 2022 Oct 13:e224656. 

 

O estudo também foi comentado em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o nosso podcast, em formato de pílulas.  Confira:

 

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Análise de pacientes brasileiros com carcinoma espinocelular de lábio, cavidade oral e orofaringe aponta fatores determinantes da doença

Estudo avaliou os dados clínico-patológicos de 12.099 pacientes com lesões de lábio, cavidade oral e orofaringe através de informações obtidas por meio de registros hospitalares de câncer da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP), entre 2010 a 2015.

 

O artigo dos pesquisadores brasileiros “Epidemiology and survival outcomes of lip, oral cavity, and oropharyngeal squamous cell carcinoma in a southeast Brazilian population”, publicado na revista científica Medicina Oral, Patologia Oral, Cirugia Bucal apresenta detalhes do perfil epidemiológico de pacientes do sudeste brasileiro.

 

As análises foram realizadas com o software SPSS versão 22.0 (IBM Corporation, Armonk, NY, EUA). Para o estudo, foram verificados os dados qualitativos e quantitativos, enquanto o método de Kaplan-Meier foi usado para estimar as taxas de sobrevida. As informações são oriundas de 76 registros hospitalares de câncer (HCRs) do Estado de São Paulo. Entre eles, os pesquisadores encontraram um total de 368.116 casos de câncer no período entre 2010 e 2015. Destes, 12.099 pacientes foram diagnosticados com carcinoma espinocelular (CEC) de lábio, cavidade oral e orofaringe.

 

A convidada pelo GBCP para comentar a pesquisa é a Dra. Maria Paula Curado, chefe do Grupo de Epidemiologia e Estatística em Câncer (GEECAN) e do Centro Internacional de Pesquisa (CIPE) do A.C.Camargo Cancer Center. Segundo Maria Paula, “alguns fatores determinantes ficaram claros durante a pesquisa como o nível de escolaridade, estadiamento da doença e a faixa etária”.

 

Os dados recuperados do FOSP mostraram que o CEC labial, carcinoma oral de células escamosas (OSCC) e carcinoma orofaríngeo de células escamosas (OPSCC) responderam por 8,3 (998 casos), 44,6 (5.398 casos) e 47,1% (5.705 casos) dos casos avaliados, respectivamente.  Observou-se uma clara predominância do sexo masculino, sobretudo nos doentes com CEC de orofaringe (88,3%).

 

A média de idade dos pacientes foi maior para casos de lábio (65 ± 13,5 anos) em comparação com outros locais. O nível de escolaridade foi baixo para a maioria dos pacientes, principalmente nos lábios (87,9%). A maioria dos pacientes com CEC de cavidade oral (71,8%) e orofaringe (86,3%) apresentava doença em estágio avançado (III-IV). No entanto, a maioria dos casos de lábio (83,3%) foi em um estágio inicial (I-II). A excisão cirúrgica foi o principal tratamento para o CEC de lábio (72%) e cavidade oral (23,5%) e a quimiorradioterapia foi o principal tratamento para o CEC de orofaringe (40,2%). A sobrevida global (SG) em 5 anos para pacientes com CEC de lábio, cavidade oral e orofaringe foi de 66,3, 30,9 e 22,6%, respectivamente.

 

OUÇA O PODCAST COM O COMENTÁRIO DA DRA. MARIA PAULA CURADO

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Referência do estudo

Louredo BV, Vargas PA, Pérez-de-Oliveira ME, Lopes MA, Kowalski LP, Curado MP. Epidemiology and survival outcomes of lip, oral cavity, and oropharyngeal squamous cell carcinoma in a southeast Brazilian population. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2022 May 1;27(3):e274-e284.

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