Estudo sugere que pode não haver necessidade de uso de radioiodo após tireoidectomia em pacientes com câncer de tireoide de baixo risco
Financiado pelo Instituto Nacional do Câncer da França, um estudo prospectivo, randomizado, de fase 3, intitulado Thyroidectomy without Radioiodine in Patients with Low-Risk Thyroid Cancer, apontou que nenhum uso de radioiodo foi não inferior à ablação com radioiodo na ocorrência de eventos funcionais, estruturais ou biológicos entre pacientes submetidos à tireoidectomia (remoção cirúrgica de parte ou de toda a glândula tireoide) para tratamento diferenciado de baixo risco de câncer de tireoide. O texto foi publicado na revista científica The New England Journal of Medicine.
Nesta pesquisa, liderada pela especialista em endocrinologia, medicina nuclear e Oncologia Sophie Leboulleux do Gustave Roussy, da Universidade de Paris, na França, participaram 730 pacientes, que foram avaliados entre maio de 2013 e março de 2017. No experimento, a porcentagem de participantes sem evento adverso foi de 95,6% no grupo sem radioiodo e 95,9% no grupo do radioiodo, uma diferença de -0,3 pontos percentuais, resultado que atendeu aos critérios de não inferioridade.
“O estudo mostrou que os desfechos relacionados à recorrência de doença foram semelhantes nos grupos que foram tratados com iodoterapia para ablação de remanescentes com baixa dose e naqueles que não foram tratados. O objetivo foi mostrar a não inferioridade de um tratamento em relação ao outro. Na prática clínica, isso nos respalda para tratar pacientes de baixo risco apenas com cirurgia e evitar a iodoterapia desnecessária”, analisa a endocrinologista Dra. Fernanda Vaisman, pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e professora do Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), convidada pelo GBCP para comentar essa pesquisa.
O que levou ao estudo?
A maioria dos pacientes com câncer de tireoide tem baixo risco de recorrência e o risco de morte relacionada ao câncer é ainda menor. Os autores escreveram que há um consenso para evitar a administração de radioiodo em pacientes com microcarcinoma unifocal (um tumor pequeno e localizado).
Como há ausência de estudos prospectivos que abordem essa questão, tem sido utilizado como argumento a favor a recomendação do uso de radioiodo em todos os pacientes com câncer de tireoide de baixo risco. Contudo, para avaliar o tratamento com radioiodo (iodo-131) em pacientes com câncer diferenciado de tireoide de baixo risco, estes foram submetidos à tireoidectomia, recebendo tratamento pós-operatório com radioiodo. O grupo controle não recebeu radioiodoterapia. Os pesquisadores definiram “não inferioridade” nas diferenças de resultado entre o grupo que recebeu tratamento com iodo e como menos de 5% dos pacientes do grupo controle com diferença de menos de 5 pontos percentuais em eventos que requerem tratamento subsequente.
Os resultados mostram, segundo a análise da Dra. Fernanda Vaisman, que a principal contribuição desta pesquisa é a possibilidade de tratar pacientes de baixo risco apenas com cirurgia, sem necessidade de iodoterapia.
Referência do estudo
LEBOULLEUX, Sophie; et al. Thyroidectomy without Radioiodine in Patients with Low-Risk Thyroid Cancer. The New England Journal of Medicine, 2022.
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