Meu nome é Alex Garcia, tenho 51 anos, sou casado com a Cinthia e tenho dois filhos. Moro em Salvador, Bahia, desde os meus 14 anos. Sou empresário, tenho uma pequena empresa de locação e manutenção de empilhadeiras. Gosto de correr e de pescar - um hobby maravilhoso de se ter aqui na Bahia.
Em 2016 fui diagnosticado com um câncer na amígdala. Passado o choque inicial, eu aceitei a doença, porque acredito que ter foco, perseverança e atitude são fundamentais para enfrentar desafios. Após meses de quimioterapia e radioterapia, em fevereiro de 2017 encerrei as sessões. Fiz um acompanhamento por mais 5 anos e agora posso dizer: estou curado do câncer.
Pensei em fazer um diário durante o tratamento, porque vi muita gente sendo derrotada pelos traumas, medos e convicções, não pelo câncer. Por isso agradeço pela oportunidade de contar um pouco da minha história e contribuir para desmistificar o câncer.
Algo estranho apareceu
Faço a barba dia sim, dia não. Em meio a essa rotina, enquanto me barbeava em um dia qualquer, notei que tinha uns linfonodos no pescoço. Era uns dois nódulos do lado direito e logo pensei "aqui tem algum problema".
Marquei um otorrinolaringologista para tentar descobrir o que era. No exame foram identificados os linfonodos aumentados e o médico me encaminhou para um cirurgião de cabeça e pescoço para que entendesse o que causou esse inchaço.
Durante um ultrassom, o cirurgião descobriu que não eram dois, mas três linfonodos. Ele fez uma punção no local para tentar identificar a causa, mas o resultado não deu nada de anormal. Mas eu sabia que alguma coisa estava errada. E precisava descobrir o que era.
Busquei então a opinião de outro cirurgião de cabeça e pescoço. Este especialista, logo ao tentar localizar os linfonodos aumentados da garganta pela boca, notou um inchaço no lado direito e recomendou que eu fizesse uma cirurgia para retirá-los. Durante o procedimento, ele encontrou um tumor na amígdala direita.
O médico conversou com minha esposa e disse que, agora que temos o diagnóstico confirmado do câncer, vamos precisar iniciar o tratamento imediatamente.
O instante após o diagnóstico
Inicialmente é um choque, claro. Mas de posse de todos os exames vimos que o câncer havia sido diagnosticado em fase inicial e não tinha um perfil tão agressivo e por isso as chances de sucesso no tratamento eram maiores.
Em nenhum momento escondi a doença de ninguém. Quando eu contava que estava com câncer, parecia que eu via a face da morte. Não em mim, mas nas pessoas, porque essa palavra ainda é um tabu e precisamos desmistificar isso. Minha insistência em tentar descobrir o que causou os inchaços nos linfonodos foi importante. Sei que é comum entre os homens ter medo, insegurança de ir ao médico e descobrir algum problema. Mas essa procura colaborou para o meu diagnóstico precoce.
O dia a dia durante o tratamento
Durante todo o tratamento, eu conversava com os médicos e a equipe multidisciplinar e deixava claro que eu era engenheiro mecânico e não profissional da área da saúde e por isso, confiava plenamente na equipe e iria seguir todas as orientações que os especialistas me dessem.
Eu passava por dois tipos de tratamento: as sessões de quimioterapia às segundas-feiras e as de radioterapia nos outros dias da semana. Uma das primeiras reações foi a perda de paladar por causa da quimioterapia. Tudo passou a ter o mesmo gosto para mim, mas continuei a me alimentar porque sabia que era importante para seguir saudável no tratamento.
Mas o mais difícil foi a radioterapia. Como a radiação era na região do pescoço, perdi um pouco de cabelo atrás e sentia incômodos na garganta. Eram 32 sessões de radioterapia, mas depois das 22ª, não conseguia sequer engolir água. Isso fez com que eu emagrecesse, perdi quase 1,5kg em um final de semana e quando cheguei para a quimioterapia na segunda-feira, não podia fazer, pois tinha perdido muito peso.
Então colocaram em mim uma sonda gástrica para poder me alimentar e hidratar. A partir daí, passei a comer de tudo mesmo, pois não sentia o sabor. Mas era só líquido, então foram vários caldos - até caldo de rã.
Fui dado como curado em fevereiro de 2017 - mas tinha que acompanhar por mais 5 anos. No final do tratamento passei por uma cirurgia para remover os linfonodos inchados e fazer uma limpeza na região direita do pescoço. Depois foi feita uma biópsia desse material removido. Fiquei apreensivo, mas não deu nada: foi constatada a ausência de células cancerígenas.
O suporte da família
Eu foquei no tratamento do câncer e minha família foi um suporte muito importante.
Eu nunca vi minha esposa chorando, mas ela confessou depois que saía para chorar, porque o tratamento não é fácil. Minha filha também sentiu o peso e foi procurar um psicólogo para conseguir lidar.
Mas minha maior preocupação foi meu sogro, Edelmy. Ele se preocupou bastante, mas eu falava para ele se tranquilizar e que tudo tem uma razão. Meus pais também ficaram preocupados e acompanhavam o tratamento. Eles não demonstraram se abater, pois sabiam que eu estava confiante na minha cura.
A volta à rotina
Eu já tinha o hábito de correr, e sei que a saúde proporcionada pela atividade física rotineira foi importante durante o tratamento. Perguntei ao médico quando podia retornar e ele pediu para esperar a cicatrização do pescoço.
Por causa do tratamento, não pude participar do campeonato de pesca oceânica no ano de 2017 e minha equipe ficou em segundo lugar. Fiquei cerca de seis meses sem pescar por causa do risco de me machucar. No ano seguinte, porém, pude voltar e ganhamos o campeonato. Esse troféu foi realmente da redenção.
Saúde proporcionada pela atividade física rotineira foi importante durante o tratamento
Não quis deixar de trabalhar durante o tratamento, mas claro que reduzi o ritmo. Passei a acompanhar a empresa de longe, trabalhando somente de casa. Nunca fui um empresário daqueles que só se dedicavam à empresa, sempre separei um tempo importante para a família e o lazer e isso se intensificou ainda mais depois da minha história com o câncer. Priorizar o que é prioridade com praticidade sempre.
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