Sou radialista há 40 anos e nos últimos oito anos apresento um programa na TV Candidés, em Divinópolis (MG). Em 2020, durante uma das edições do meu programa, senti algo estranho na garganta. Tive a sensação, ao engolir, que ela estava mais estreita que o normal.
Foi nessa época que algumas pessoas e eu também percebemos a presença de um pequeno caroço do lado direito do meu pescoço. Então, não adiei e marquei uma consulta para avaliação médica. O médico que me examinou pediu que eu procurasse um especialista para fazer um ultrassom.
Com resultado do exame em mãos, fui encaminhado no mesmo dia para avaliação de um cirurgião de cabeça e pescoço que fez um novo exame, chamado nasofibrolaringoscopia, um tipo de endoscopia feita pelo nariz. O especialista de cabeça e pescoço disse que pela aparência do nódulo, as chances de ser um tumor maligno na laringe eram de 99%.
Foi uma notícia muito difícil. O médico com a mão em meu ombro me explicava que havia tratamento e que a chance de sucesso era grande. Mas eu só pensava em minha família. Mandei mensagem para minha esposa. Ela e um dos meus filhos foram para o consultório onde eu estava. Fui internado para fazer uma biopsia, que mostrou que o tumor, apesar de pequeno e descoberto no início, era de um tipo agressivo.
Preservar a voz
Conversando com o médico, ele explicou que tínhamos dois caminhos de tratamento. Um consistia em uma cirurgia, acompanhada da introdução de uma cânula na traqueia por um mês. No entanto, esse tratamento tinha muitas chances de alterar minha voz, que é meu instrumento de trabalho. Outra alternativa seria me submeter a quatro sessões de quimioterapia e 33 de radioterapia. Em conjunto com o médico, eu e minha família optamos pelo tratamento não cirúrgico.
Foram meses difíceis, com tratamento de abril a outubro de 2020. A radioterapia aplicada no local do tumor queima. A quimioterapia, por sua vez, afetou o paladar. Mas eu sabia que me alimentar era importante para minha recuperação. Assim, coloquei na cabeça que mesmo sem paladar ou com qualquer outra dificuldade advinda dos tratamentos, eu iria me alimentar bem e ficaria curado. Eu era o único paciente da quimioterapia que levava marmita para obedecer os horários das refeições. Foi assim que consegui passar pelos tratamentos quase sem perder peso.
Além do apoio de toda a equipe médica e multiprofissional que me acompanhou, o carinho da minha esposa, meus filhos e minha enteada foi essencial para vencer cada desafio. Fiquei curado, minha voz ficou normal e retomei as minhas atividades profissionais.
Gostaria de nunca ter começado a fumar
Hoje, se eu pudesse mudar alguma coisa em minha vida, seria nunca ter começado a fumar. Fui fumante por 42 anos e decidi parar apenas em 2019, quando este hábito resultou, antes do câncer de faringe, que também aconteceu devido o tabagismo, no primeiro grande prejuízo a minha saúde.
Foi naquele ano que comecei a ter fortes dores na panturrilha das duas pernas. Fui ao médico e estava com trombose, provavelmente, resultado do tabagismo. Decidi parar de fumar em 4 de março de 2019 por causa disso. Um marco na minha vida. Não é fácil, mas minha força de vontade tem sido mais forte que o vício. Fui submetido à cirurgia para colocação de stents, que são como pequenos tubos expansíveis que permitem restaurar o fluxo sanguíneo na região afetada. O procedimento deu resultado e pude voltar a praticar atividade física, inclusive o futebol que tanto gosto.
A conta sempre chega
Aprendi com esses dois episódios que a conta do tabagismo sempre chega na forma de alguma doença. No meu caso foi a trombose e o câncer de laringe, mas poderia ter sido um AVC, um infarto e outras doenças. Por isso, o ideal é nunca fumar e se já tiver sido pego pelo vício parar imediatamente.
Também aprendi que câncer tem tratamento e cura, principalmente, se for tratado no início. Por essa razão, é fundamental ir ao médico quando percebemos qualquer sinal diferente em nosso organismo. No meu caso era um tumor agressivo, mas com o diagnóstico precoce o tratamento teve sucesso.
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