Levando em conta as taxas atuais de vacinação contra HPV, entre 2018 e 2045 a incidência de câncer de orofaringe deverá diminuir entre os mais jovens.
A estimativa é que a população na faixa de 36 a 45 anos tenha sua prevalência reduzida de 1,4 para 0,8 casos para cada 1000 mil habitantes. Entre os indivíduos de 46 a 55 anos a redução será de 8,7 para 7,2 casos.
Por sua vez, a doença continuará com prevalência crescente entre os mais velhos – de 73 a 83 anos – saltando de 16,8 para 29 casos a cada 100 mil pessoas. Considerando todas as faixas etárias, a associação da vacina contra HPV com a incidência geral de orofaringe até 2045 permanecerá modesta, caindo de 14,3 casos sem vacinação para 13,8 casos por 100 mil habitantes entre os vacinados.
Estes são os principais dados do estudo Projected Association of Human Papillomavirus Vaccination With Oropharynx Cancer Incidence in the US, 2020-2045, publicado na revista JAMA Oncology, da Associação Médica Americana, por pesquisadores dos departamentos de Epidemiologia e de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia da John Hopkins University, dos Estados Unidos.
Estas prevalências representam que, até 2045, a vacinação contra o HPV está projetada para reduzir a incidência de câncer de orofaringe entre indivíduos de 36 a 45 anos de idade (homens em 48,1% e mulheres em 42,5%) e de 46 a 55 anos de idade (homens em 9,0% e mulheres em 22,6%), mas entre aqueles com 56 anos ou mais, as taxas não são significativamente reduzidas. Entre 2018 e 2045, um total de 6.334 casos de câncer de orofaringe serão prevenidos pela vacinação contra o HPV, dos quais 88,8% desses casos ocorrem em faixas etárias mais jovens (até 55 anos).
Efeito a longo prazo do impacto positivo da vacina
No cenário ideal, a vacina contra o HPV deve ser aplicada antes do início da vida sexual. O câncer de cabeça e pescoço mais associado com o HPV é o de orofaringe, doença que ocorre preferencialmente acima dos 45 anos de idade. Por conta disso, para quem se vacina hoje, o efeito protetivo desta imunização será observado 30 a 40 anos mais tarde. “Isto significa que a partir de 2060, desde que consigamos vacinar os jovens adequadamente hoje, observaremos uma redução substancial da incidência do câncer de orofaringe associado ao HPV”, vislumbra o cirurgião de cabeça e pescoço Dr. Antônio Bertelli, convidado pelo GBCP a comentar o estudo.
O especialista acrescenta que estruturar medidas de prevenção secundária, com campanhas de rastreamento da doença em fase inicial, que possibilite a identificação de lesões pré-malignas, seria fundamental para esta redução. Ainda segundo Dr. Bertelli, a principal contribuição deste estudo é demonstrar que a faixa etária dos pacientes com cancer de orofaringe relacionado ao HPV será mais elevada nos próximos anos.
Hoje, explica ele, a doença acomete indivíduos mais jovens e o efeito protetivo da vacina ocorrerá primeiro nestes mesmos indivíduos, nos próximos anos, uma vez que a vacinação se iniciou a partir da segunda década do novo milênio. “Portanto, a ocorrência da doença aumentará entre os indivíduos com mais idade, que não foram vacinados, e precisaremos nos preparar para tratar os pacientes com mais comorbidades e muitas vezes com limitações para certos tratamentos, e continuar estimulando as campanhas de prevenção especialmente entre estes indivíduos não vacinados”, afirma Dr. Bertelli, que é médico assistente da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Professor Instrutor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Professor de Ensino Superior da Universidade Nove de Julho e chefe de equipe do Hospital
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