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Etiqueta : multidisciplinaridade

Questões psicológicas em sobreviventes de câncer de cabeça e pescoço: necessidade de abordagem na reabilitação

 

 

 

Por Christiane Mayena Salgado Bicalho, psicóloga do Grupo DOM Oncologia, membro do GBCP e Aline Lauda Freitas Chaves,, oncologista, Grupo DOM Oncologia e membro do GBCP

As complicações psicológicas associadas ao câncer de cabeça e pescoço e seu tratamento são frequentes, subdiagnosticadas e, frequentemente,  não tratadas1.

A Oral Oncology neste último mês trouxe uma Carta ao Editor apontando sobre essas questões2. Vale a pena comentarmos!

O artigo aponta que os pacientes sobreviventes de câncer de cabeça e pescoço (CCP) tem necessidade de reabilitação complexa devido às repercussões da doença e do tratamento a curto e longo prazo. Os estressores psicossociais incluem desde problemas de fala e deglutição, dor, desfiguração, até estigma, medo de reincidência e questões financeiras, associados a desenvolvimento de sintomas depressivos e ansiosos.

A taxa de depressão clínica entre paciente de CCP é a mais alta entre os pacientes com câncer, indicando um risco de mortalidade 26 a 39% maior do que dos demais pacientes e chance triplicada de não adesão ao tratamento.

A desfiguração facial, a distorção da imagem corporal e a falta de atividade física se relacionam com a depressão em paciente que passam por cirurgia e tratamento de CCP.

Suzuki et al identificaram que sobreviventes de CCP sofrem com sintomas ansiosos e depressivos por período prolongado após cirurgia. Barber et al descobriram que pacientes com sintomas depressivos moderado e grave pré-operatórios tem desempenho funcional pós-operatório significativamente diminuído. Jansem et al mostraram que sintomas depressivos estavam associados a pior sobrevida de pacientes de CCP no primeiro ano de tratamento. Wu et al apontaram alterações funcionais como fatores de risco significativos para a depressão em paciente sobreviventes de CCP.

Lauren et al apontaram a necessidade de investigações mais profundas na relação entre a fisiopatologia da depressão e a progressão do câncer, considerando os distúrbios endócrinos e inflamatórios envolvidos nesses processos. Dropkin et alpostularam sobre os desafios dos pacientes com CCP no tratamento e seus recursos de enfrentamento.

Em conclusão, os distúrbios de saúde mental, como ansiedade e depressão, são prováveis de serem apresentados por pacientes sobreviventes de CCP, indicando a necessidade da identificação e tratamento precoce dos sintomas e a abordagem multidisciplinar na reabilitação desses pacientes.

À parte desta carta ao editor, é oportuno citarmos o estudo de Lydiatt et al, randomizado, duplo cego, comparando escitalopram versus placebo para prevenir depressão em pacientes com câncer de cabeça e pescoço em tratamento. O grupo tratado com escitalopram apresentou menor taxa de depressão que o grupo placebo (24,6 x 10,0% no grupo do escitalopram)3. (figura1)

Figura1

Cuidar da saúde global dos nossos pacientes com CCP é necessário não apenas para melhorar a sobrevida, mas também a qualidade de vida dos mesmos. Envolver a psicologia na equipe multidisciplinar é fundamental!

 

  1. Lydiatt WM, Moran J, BurkeWJ. A review of depression in the head and neck cancer patient. Clin Adv Hematol Oncol. 2009;7(6):397-403.
  2. Kar A, M R A, Bhaumik U, Rao VUS. Psychological issues in head and neck cancer survivors: Need for addressal in rehabilitation. Oral Oncol. 2020:104859. doi:https://doi.org/10.1016/j.oraloncology.2020.104859
  3. Lydiatt WM, Bessette D, Schmid KK, Sayles H, Burke WJ. Prevention of depression with escitalopram in patients undergoing treatment for head and neck cancer: randomized, double-blind, placebo-controlled clinical trial. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. 2013;139(7):678-686. doi:10.1001/jamaoto.2013.3371

 

 

O Câncer de Cabeça e Pescoço no GLOBOCAN 2018

Por Gabriela Freitas Chaves, oncologista do  Hospital Integrado do Câncer Materdei 

GLOBOCAN é um projeto do IARC (International Agency for Research on Cancer) que avalia estimativas de incidência e mortalidade por câncer, através de dados de cada país/região, utilizando métodos estatísticos variados e gerando dados de alta qualidade.

Em setembro de 2018 foram liberados os dados do novo GLOBOCAN, englobando 36 sítios de câncer, com dados de 185 países.

Como dados gerais temos:
Há um crescimento contínuo e rápido na incidência e mortalidade por câncer em todo o mundo;
Estimam-se, para 2018, 18.1 milhões de novos casos de câncer (17 milhões, excluindo pele não-melanoma) e 9.6 milhões de mortes relacionadas ao câncer;
O risco cumulativo de incidência indica que 1 em cada 8 homens e 1 em cada 10 mulheres desenvolverão a doença ao longo da vida.

 O QUE O NOVO GLOBOCAN TRAZ DE NOVO SOBRE O CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO?

 Os subsítios da cabeça e pescoço avaliados no GLOBOCAN foram:

 -Lábio e cavidade oral (C00-C06)
– Glândula salivar (C07-C08)
– Orofaringe (C09-C10)
– Nasofaringe (C11)
– Hipofaringe (C12-C13)
– Laringe (C32)
– Tireóide (C73)

Quando se somam todos os subsítios, estes tumores ocupam o TERCEIRO lugar em incidência, com 1.454.892 novos casos em 2018, ficando atrás somente dos tumores de pulmão (2.093.876) e mama (2.088.849) e à frente do câncer de próstata (1.276.106) .
Quando analisamos os sexos separadamente, os tumores de cabeça e pescoço são a quarta causa mais comum de câncer em homens (796.946 casos), ficando atrás de pulmão, próstata e colorretal. Nas mulheres também são a quarta causa mais comum (657.966 casos), atrás de mama, colorretal e pulmão, sendo os tumores de tireoide o mais frequentes nesta população (436.344 casos).
A incidência pode variar de acordo com a região do mundo. Nos países em desenvolvimento, em homens, o câncer de lábio e cavidade oral por si só é o terceiro em incidência, em parte pela alta taxa da doença na Índia, que corresponde a 36% da população de países com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH).
Entender as estatísticas mundiais sobre câncer, no nosso caso o câncer de cabeça e pescoço, é essencial para propormos medidas de prevenção e diagnóstico precoce. Medidas como políticas anti-tabagismo, vacinação contra o HPV e melhora das condições da saúde oral e dieta da população terão um impacto significativo na incidência e mortalidade desta doença.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências:

Bray F, Ferlay J, Soerjomataram I et al. Global Cancer Statistics 2018: GLOBOCAN Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries. CA: A Cancer Journal for Clinicians 2018;0: 1-31.

Antonia S, Soerjomatarama I, Møllerb B et al. An assessment of GLOBOCAN methods for deriving national estimates of cancer incidence. Bulletin of the World Health Organization 2016;94:174-184.

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Novidades do Congresso Brasileiro de Radioterapia

Por Dr Diego Rezende – radio-oncologista do do Grupo Oncoclínicas Recife e do Centro de Oncologia de Caruaru 

Ocorrido entre 15 e 18 de agosto de 2018 em Belo Horizonte-MG, o XX Congresso da Sociedade Brasileira de Radioterapia teve como tema principal os benefícios e indicações do hipofracionamento na radioterapia. Nesta técnica de tratamento é utilizada uma dose diária de radiação mais elevada do que a habitual, permitindo, assim, que um menor de aplicações seja necessário tornando, consequentemente, o tratamento significativamente mais curto. No cenário dos tumores de cabeça e pescoço essa discussão foi mantida sendo avaliado e discutido o papel do hipofracionamento em tumores localmente avançados e em tumores recidivados que necessitam de novo tratamento com radioterapia, além de ter sido apresentada a experiência brasileira com essa modalidade de fracionamento.

Outro tema extensamente debatido foi a viabilidade técnica e financeira para utilização da radioterapia de intensidade modulada (IMRT) no tratamento de tumores de cabeça e pescoço pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A IMRT é uma técnica de radioterapia que proporciona melhor proteção aos tecidos adjacentes ao tumor, minimizando assim os efeitos colaterais decorrentes do tratamento, em especial, a sensação de boca seca (xerostomia). Durante o congresso foram apresentadas ainda mais evidências dos benefícios desta técnica a fim de proporcionar mais subsídios, solidez e respaldo para introdução da mesma no rol de procedimentos do SUS.

Por fim, foram também apresentados importantes estudos na área de cabeça e pescoço entre eles o estudo prospectivo conduzido no Brasil sobre avaliação da qualidade de vida dos pacientes com tumores de cabeça e pescoço 01 ano após tratamento, estudo que conta com participação ativa do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço na sua condução.

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