Atualmente, presenciamos um aumento progressivo na incidência do câncer de tireoide em todo o mundo, caracterizando um excesso de diagnóstico (1,2). O tratamento padrão destes tumores é a cirurgia, geralmente a tireoidectomia total. Estudos realizados no Japão e Estados Unidos demonstraram que a vigilância ativa pode ser uma alternativa para alguns casos, sem impactar na sobrevida dos pacientes (3,4).
Dr Alvaro Sanabria, avaliou através de uma coorte prospectiva na Colômbia, se a estratégia de vigilância ativa é factível na população latino-america (5). Os critérios de seleção dos pacientes para vigilância ativa foram: lesões menores que 1,5cm, encapsuladas, sem evidência de linfonodo metastático. O seguimento dos pacientes foi feito com ultrassonografia periódica, consulta médica imediata se sintomas clínicos ou presença de adenomegalia cervical. Cirurgia imediata era feita se houvesse crescimento significativo ou se o paciente solicitasse.
Cinquenta e sete pacientes foram incluídos na análise. A maioria dos pacientes eram mulheres (84%), com idade média de 51,9 anos, sendo que em 96% dos casos o diagnóstico foi incidental. O tamanho médio e mediano dos nódulos foi de 9,7 e 9 mm, respectivamente. 16% dos nódulos foram classificados como ATA de baixo risco, e 61% dos nódulos foram classificados como categoria V de Bethesda. Houve, em média, 2 visitas de seguimento por paciente (variando entre 0 a 6) com seguimento mediano de 13.3 meses (variando entre 0-54 meses). 9% dos pacientes foram submetidos à cirurgia (3 por crescimento do nódulo e 2 por outras razões). Todos apresentaram carcinoma papilar e foram tratados com tireoidectomia parcial. A taxa de estabilidade global foi de 90%, de crescimento até 3 mm foi de 98% e de pacientes sem cirurgia com 12 meses de seguimento foi de 92.5%.
Apesar dos dados favoráveis, Sanabria pontua ao final do seu artigo, que há barreiras locais para se utilizar a vigilância ativa em países em desenvolvimento: muitos pacientes moram em áreas rurais, longe dos centros oncológicos e não apresentam seguros de saúde, dificultando a realização de exames de imagem de rotina e seguimento médico. Além disso, o baixo nível educacional impede o entendimento dos riscos e benefícios da vigilância ativa e muitos médicos têm medo de ações jurídicas futuras e apresentam resistência a mudanças.
Avaliando a literatura mundial e com os dados desta pequena coorte latino-americana podemos concluir que a vigilância ativa no microcarcinoma de tireoide é factível em países em desenvolvimento, sendo uma estratégia que pode ser considerada em casos selecionados.
- Davies L, Welch HG. Current thyroid cancer trends in the United States. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. 2014;140(4):317-322.
- Sanabria A, Kowalski LP, Shah JP, et al. Growing incidence of thyroid carcinoma in recent years: Factors underlying overdiagnosis. Head Neck. 2018;40(4):855-866.
- Ito Y, Miyauchi A, Oda H. Low-risk papillary microcarcinoma of the thyroid: a review of active surveillance trials. Eur J Surg Oncol. 2018;44(3):307-315
- Tuttle RM, Fagin JA, Minkowitz G, et al. Natural history and tumor volume kinetics of papillary thyroid cancers during active surveillance. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. 2017;143(10):1015-1020.
- Sanabria A. Active Surveillance in Thyroid Microcarcinoma in a Latin-American Cohort. August 30, 2018. doi:10.1001/jamaoto.2018.1663