top of page

Como encontrar e avaliar as opções de pesquisas clínicas sobrenovas terapias para o câncer de cabeça e pescoço?

Antes que um tratamento para câncer de cabeça e pescoço entre na prática clínica, beneficiando pacientes em sua jornada, ele deve passar por um processo criterioso que confirme, entre outros aspectos, sua eficácia e segurança. Estamos falando das pesquisas clínicas.


Dra Taiane Rebelatto

É graças ao trabalho de cientistas que se debruçam a estudar e testar novas alternativas capazes de combater enfermidades que a medicina evolui. O câncer é um ótimo exemplo, apesar de ainda termos muito a avançar, o trabalho de pesquisadores transformou o cenário das doenças oncológicas, permitindo, diferentemente do passado, incorporar a perspectiva de tratamento e até mesmo cura na trajetória dos pacientes.

 

Conforme explica a oncologista clínica Dra. Taiane Rebelatto, diretora médica do Grupo Cooperativo Latino-Americano de Oncologia (LACOG), para um medicamento chegar ao mercado/comercialização, ele passa por uma série de estudos rigorosos. Primeiramente, o medicamento antes de ser testado em pacientes, é avaliado por pesquisa pré-clínica, na qual não há participação de seres humanos. As drogas ou novos procedimentos são testados de outras maneiras (em células e/ou animais), de acordo com critérios científicos. Somente após, é que a pesquisa entra na etapa clínica, com participação de pacientes.

 

Na pesquisa clínica, o novo tratamento é avaliado em estudos de fase 1, 2 e 3. No estudo de fase 1, é avaliada, principalmente, a segurança do novo tratamento (por exemplo definição de dose segura) em um pequeno grupo de pacientes; posteriormente o tratamento é avaliado em um número um pouco maior de pacientes com foco principal na eficácia. Caso comprovada eficácia no estudo de fase 2, é realizado então o estudo de fase 3, quando o objetivo é comprovar se os resultados do tratamento são melhores do que os já praticados em grande número de pacientes. “No Brasil, atualmente, a maioria dos estudos conduzidos de câncer de cabeça e pescoço é de fase 3”, informa Dra. Taiane.

 

Pesquisas de fase 3, em sua maioria são estudos randomizados, ou seja, os participantes são organizados geralmente em dois grupos, um dos grupos recebe o tratamento padrão, que corresponde ao melhor da prática clínica atual, e o outro grupo recebe o tratamento em estudo para avaliar se esse é superior ao tratamento padrão. “A adesão do paciente à pesquisa clínica é fundamental para a evolução científica. Além disso, o paciente precisa entender que não será uma cobaia. Pelo contrário, as intervenções e tratamentos realizados no ambiente de pesquisa clínica preenchem padrões elevados de qualidade e segurança, além de proporcionar acesso a tratamentos e acompanhamento médico de alta qualidade, assim como medicamentos e exames, sem qualquer custo”, afirma.

 

 

Pesquisa clínica, sempre uma opção para o câncer de cabeça e pescoço

 

Diferentemente do que algumas pessoas pensam, o paciente, assim como seu médico, não deve considerar a participação em um estudo clínico como a última opção, depois que todas as outras alternativas de tratamento falharam. Ao contrário, a Dra. Taiane salienta que “o paciente pode participar de um protocolo de pesquisa a qualquer momento de seu tratamento, desde o diagnóstico inicial, até mesmo após ter recebido várias linhas de tratamento”.

 

A participação em uma pesquisa deve envolver o médico assistente, assim como o paciente, e precisa considerar aspectos, como os benefícios que o tratamento em pesquisa poderá trazer. “Nós médicos precisamos estar atentos a essa possibilidade e sempre verificar se existe algum estudo clínico aberto para a condição de nosso paciente”, pondera.

 

Onde buscar a pesquisa clínica para o câncer de cabeça e pescoço

 

Para participar de um estudo clínico, o mais comum é que o paciente antes converse com seu médico assistente que faz o relatório médico e o encaminhamento. O centro de pesquisa, por sua vez, avalia se o paciente é elegível ao estudo, ou seja, se ele cumpre todos os pré-requisitos necessários àquela pesquisa. “Os pré-requisitos são importantes para determinar se o perfil do paciente está de acordo com as premissas do estudo e, ao mesmo tempo, preservam a segurança da saúde dos participantes”, explica.

 

Apesar de ser mais comum que a indicação para participar de um grupo de pesquisa parta do médico assistente, que tem mais acesso a essas informações, o paciente também pode entrar em contato diretamente com o centro de pesquisa. Para o paciente que deseja buscar informações sobre possibilidades de grupos de pesquisa, além de seu médico assistente, que sempre estará envolvido nesse processo, há plataformas na internet, entretanto a maioria delas está na língua inglesa, dificultando o acesso à informação. Com objetivo de melhorar o acesso de pacientes à informação sobre pesquisa clínica, algumas iniciativas têm sido realizadas. Um exemplo é o Instituto Projeto CURA, uma instituição sem fins lucrativos, voltada a fomentar o avanço da pesquisa do câncer na América Latina, com objetivo de conscientizar a sociedade sobre os potenciais benefícios da pesquisa clínica, incluindo ações em educação de pacientes e de acesso à informação.

 

Participação do Brasil em pesquisas ainda é pequena

 

Apesar da importância dos estudos clínicos para o avanço dos tratamentos das doenças oncológicas, o Brasil participa em menos de 5% das pesquisas realizadas globalmente. “No caso do câncer de cabeça e pescoço, são poucos estudos abertos apesar do grande número de casos. Mesmo assim, temos tido avanços, por exemplo, com tratamentos imunoterápicos”, informa Dra. Taiane. De fato, de acordo com estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), somente em 2025, o Brasil deve alcançar 39.550 novos casos de câncer de cabeça e pescoço.

 

Para mudar esse cenário, aumentando o número de pesquisas clínicas de câncer de cabeça e pescoço, além de facilitar o acesso aos pacientes, Dra. Taiane acredita ser importante ampliar os investimentos públicos e privados nesse segmento e na ciência como um todo. “Em nosso país, o câncer de cabeça e pescoço, principalmente cavidade oral e laringe, é um problema importante saúde. Enfrentamos problemas de controle de fatores de risco (álcool e tabaco), assim como diagnóstico tardio, e dificuldade de acesso aos tratamentos. Neste contexto, a pesquisa clínica tem papel fundamental, não só para o avanço da ciência, mas também pela oportunidade de os pacientes participarem de um estudo com novas medicações”, ressalta Dra. Taiane.

 

De acordo com a especialista, ainda há muito a ser feito. “Além de cuidar dos pacientes, nos cabe trazer informação de qualidade sobre a pesquisa clínica.O tratamento do paciente com câncer de cabeça e pescoço exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo cirurgião, radioterapeuta, oncologista, fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, entre outros. É fundamental que todas essas especialidades tenham em mente que existe a possibilidade de estudo clínico. Esse tema deve ser discutido dentro da equipe multidisciplinar e, também, com o paciente”, conclui.

bottom of page