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A importância da pesquisa clínica na otimização do tratamento do câncer

Como a pesquisa clínica pode otimizar o tratamento do câncer é a pergunta que Dr. William Nassib William Junior explica nesse artigo



A cada ano, cerca de 20 milhões de pessoas podem ser diagnosticadas com algum tipo de câncer, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, 1/3 desses casos podem ser prevenidos, principalmente por mudanças de hábitos da população (como parar com o tabagismo, evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e se prevenir da infecção pelo vírus HPV). Mas existe outro 1/3 dos casos que, mesmo que ocorram, podem ser curados se diagnosticados e tratados corretamente.


Diante desse cenário, a Union for International Cancer Control (UICC) construiu uma campanha para a redução dos gargalos no diagnóstico e tratamento do câncer. Uma das formas de alcançar esse objetivo é por meio da pesquisa: a busca por novas tecnologias e métodos que podem otimizar o manejo com o paciente oncológico.

Para entender melhor como está o cenário da pesquisa no tratamento do câncer, entrevistamos o oncologista clínico William Nassib William Junior, diretor do GBCP, chair do LACOG (Latin American Cooperative Oncology Group) Head and Neck Group e especialista na área de pesquisa clínica. Confira:


1 - Em um contexto histórico, quais foram os principais avanços no tratamento do câncer?


Nós tivemos um avanço muito grande nos tratamentos de suporte para pacientes oncológicos. Por exemplo, drogas anti-náuseas que fazem com que o paciente consiga tolerar melhor o tratamento. Isso faz com que o paciente tenha uma maior chance de se sentir bem até o final do tratamento.


Há também o desenvolvimento de terapias mais modernas que podem ser usadas em combinação e mais recentemente, o desenvolvimento do que a gente chama de terapias-alvo, drogas que vão especificamente bloquear uma molécula responsável por uma função importante da célula cancerígena. Ao bloquear essa molécula, é possível ter um efeito anticâncer bastante importante no tratamento.


Outro avanço bastante importante foi a imunoterapia, uma terapia que estimula o sistema imunológico do paciente e isso faz com que o controle da doença possa ser atingido de uma maneira mais eficaz.


2 - Nos últimos anos, quais pesquisas se destacaram para reduzir os custos do tratamento oncológico, principalmente no câncer de cabeça e pescoço?


Infelizmente isso não é um foco na oncologia em geral, até porque a pesquisa clínica costuma ser capitaneada nos países mais desenvolvidos, onde o custo é sim uma preocupação, mas não tende ser a principal, já que a prioridade é a inovação e a descoberta de tratamentos mais eficazes – e essas técnicas geralmente vem com um custo mais elevado. Dito isso, nós temos sim linhas de pesquisa em algumas partes do mundo que podem ajudar a reduzir o custo.


Por exemplo, na Índia, tem se desenvolvido esquemas de tratamento para câncer de cabeça e pescoço com medicações utilizadas em baixas doses e de maneira mais contínua. Em geral, esses tratamentos são menos tóxicos, com medicamentos mais antigos e com um custo bastante reduzido. E muitos desses tratamentos se mostram bastante eficazes.


Nós tivemos recentemente um exemplo muito importante aqui no Brasil, de um tratamento com radioterapia dada de maneira mais curta em um período menor para pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Esse estudo foi conduzido junto com órgãos internacionais e capitaneado pelo Hospital do Amor, em Barretos. Esse tratamento, com um tempo mais reduzido de radioterapia, é bastante eficaz, e eventualmente poderia ser aplicado em locais com dificuldades de recursos.


Esse estudo ainda precisa ser aceito pela comunidade internacional, mas certamente são passos na direção certa na tentativa de se reduzir o custo de tratamento com câncer.


3 - No câncer de cabeça e pescoço, quais foram as principais novidades no tratamento dos últimos anos?


As principais novidades em termos na oncologia clínica certamente foram o desenvolvimento da imunoterapia e também as terapias-alvo. Recentemente nós tivemos uma nova terapia-alvo aprovada em câncer de cabeça e pescoço, mas também temos medicamentos promissores como, por exemplo, aqueles que agem nos mecanismos da célula com relação a morte celular. Esse é um mecanismo importante, pois quando é preciso eliminar um tumor, deve-se buscar um modo de acelerar a morte dessa célula tumoral.


E, também, algumas drogas que talvez possam interferir em como a radioterapia ou mesmo a própria quimioterapia fazem com que as células entrem nesse mecanismo de morte celular e auxiliem essas outras modalidades de tratamento e eliminem o tumor.

Do ponto de vista da radioterapia, houve nos últimos anos um avanço das técnicas mais modernas que contribuem para a redução dos efeitos colaterais, pois conseguem entregar as doses de radioterapia em áreas mais precisas do tumor, tornando esse tratamento não só menos tóxico, como eventualmente mais eficaz.


Por fim, do ponto de vista cirúrgico existem as técnicas de cirurgia transoral, como a cirurgia robótica. A utilização de equipamentos como o robô possibilita o ressecamento do tumor com menor risco ao paciente, o que pode ocasionar uma melhora de qualidade de vida.



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