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Implantes dentários em pacientes com câncer de cabeça e pescoço irradiados: estudo aponta riscos e avanços na reabilitação oral oncológica

  • Foto do escritor: gbcpcomunicacao
    gbcpcomunicacao
  • 2 de jun.
  • 3 min de leitura

Uma revisão sistemática e metanálise recente revelou dados preocupantes e, ao mesmo tempo, encorajadores sobre a viabilidade de implantes dentários em pacientes com diagnóstico de câncer de cabeça e pescoço que foram irradiados.


Eduardo Fregnani

O estudo Osteoradionecrosis Incidence and Dental Implant Survival in Irradiated Head and Neck Cancer Patients: A Systematic Review and Meta-Analysis foi discutido no episódio 26 do podcast Conexão Cabeça e Pescoço, promovido pelo Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP). A mediação do episódio foi do oncologista clínico Gilson Gabriel Veloso, diretor de Comunicação do GBCP e Fellow de Tórax e Cabeça e Pescoço do Grupo Oncoclínicas.

 

O trabalho mostrou que a radioterapia representa um fator de risco significativo para a falha de implantes, mas que avanços técnicos vêm abrindo novas possibilidades. Segundo a análise feita pelo cirurgião-dentista Eduardo Fregnani, convidado do episódio, a taxa de falha de implantes em pacientes irradiados chega a 58%, comparada a apenas 6% em pacientes não irradiados. Ainda assim, a taxa de osteorradionecrose — uma das maiores preocupações nesse contexto — permanece relativamente baixa, em torno de 1,8%.

 

Apesar dos riscos, Fregnani defende que, para muitos pacientes, os implantes são a única forma viável de reabilitação oral, trazendo benefícios funcionais e estéticos significativos. “A reabilitação com implantes é crucial. Melhora a qualidade de vida, a função mastigatória e a estética. Muitas vezes, é a única opção viável para esses pacientes, mas precisa ser realizada com análise cuidadosa dos riscos e por cirurgiões-dentistas com expertise em oncologia”, afirmou Fregnani, doutor em Oncologia pelo A.C.Camargo Cancer Center e diretor da São Paulo Dental Studio, clínica odontológica multidisciplinar privada e escola de pós-graduação em Odontologia, em São Paulo. Fregnani atua com pacientes oncológicos há 25 anos e é pesquisador no Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês e consultor científico do Serviço de Odontologia do Grupo Oncoclínicas.

 

Para chegar no resultado, os autores analisaram os dados de 21 artigos científicos sobre 753 pacientes com câncer de cabeça e pescoço. A maioria era do sexo masculino, com média de idade de 60,25 anos. Ao todo, 46% foram submetidos à radioterapia, com 2.261 implantes dentários inseridos. A mandíbula foi o local de implante mais utilizado, representando 62,4%. O tempo médio entre a colocação do implante e a radioterapia foi de 5,3 semanas, com um período mediano de espera de 30,7 meses para a cirurgia secundária.


Entre os pontos de destaque do estudo, segundo Fregnani, está a importância da dose de radiação recebida. Doses acima de 55 grays se mostraram especialmente prejudiciais para a longevidade dos implantes. O tempo ideal para a realização do procedimento também é tema de debate. Alguns profissionais defendem a colocação dos implantes entre seis meses e um ano após a radioterapia; outros sugerem esperar mais de dois anos para reduzir os riscos de complicações.


Fregnani ressalta ainda que a decisão deve ser personalizada, levando em conta fatores como tipo de osso (enxertado ou autógeno), presença de enxertos de tecidos moles, histórico de tabagismo, e condições periodontais prévias. Em alguns casos, mesmo diante de riscos elevados, a opção pelo implante pode ser justificada. “Chamamos de implantes heroicos — realizados com planejamento cuidadoso, consciência dos riscos e acompanhamento rigoroso”, afirma.


O especialista também apontou lacunas na literatura, como a ausência de dados sobre reirradiação e o número de implantes por paciente, além da inclusão de estudos com amostras pequenas, o que pode comprometer a robustez das evidências. Mesmo assim, Fregnani vê nessa metanálise um importante passo para guiar decisões clínicas. “Ela traz dados quantitativos importantes e reforça a necessidade de abordagens multidisciplinares”

A mensagem final reforça a importância da integração entre cirurgiões-dentistas, oncologistas e radio-oncologistas para o sucesso da reabilitação desses pacientes. Segundo ele, ainda há espaço para novos estudos clínicos e para o uso de tecnologias mais modernas que possam minimizar os impactos da radioterapia nos ossos e tecidos adjacentes.



O papo completo está disponível em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.



OUÇA O PODCAST




 

 

Referência do estudo


Gorjizad M, Aryannejad M, Shahriari A, Aslani Khiavi M, Barkhordari Dashtkhaki M, Rigi A, Mohamadi Z, Asgari P, Shirazi S, Ziaei S, Asadi Anar M. Osteoradionecrosis Incidence and Dental Implant Survival in Irradiated Head and Neck Cancer Patients: A Systematic Review and Meta-Analysis. Spec Care Dentist. 2025 Mar-Apr;45(2):e70022.

 


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