A importância da vacinação contra o HPV na prevenção do câncer de cabeça e pescoço
- gbcpcomunicacao
- 6 de jun.
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O imunizante está entre os protagonistas da prevenção do câncer de cabeça e pescoço, especialmente em relação à orofaringe. Disponível no SUS, um dos desafios é aumentar adesão das pessoas a vacinação contra o HPV

Nesse cenário, médicos e profissionais de saúde têm papel central e podem contribuir muito, na opinião do Dr. Raphael e Silva Pires, professor de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
As vacinas têm um papel histórico no Brasil na prevenção e erradicação de diversas doenças. A vacina contra o vírus HPV (Papilomavirus Humano) faz parte dessa história como importante aliada na prevenção do câncer de cabeça e pescoço. “Não é exagero dizer que esse imunizante foi uma revolução e está entre os principais fatores de proteção contra o câncer de cabeça e pescoço, especialmente, em relação ao de orofaringe, região que inclui a base da língua, as amígdalas e a parte lateral e posterior da garganta”, afirma o médico infectologista, Dr. Raphael e Silva Pires, professor de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Dr. Raphael explica que os HPVs são divididos em dois grupos de acordo com seu potencial oncogênico. Os de baixo risco, são os tipos 6, 11, 40, 42, 43, 54, 61, 70, 72, 81, CP6 108, responsáveis por causar verrugas e lesões de baixo grau. Os de alto risco para câncer são os tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73, 82. Atualmente, vacina disponível no Brasil, gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é a quadrivalente, que protege contra o HPV dos tipos 6 e 11, que provocam verrugas anogenitais, e dos tipos 16 e 18, que causam, além de câncer orofaringe, o de colo uterino, de pênis e anal. Nas instituições privadas há a vacina HPV nonavalente que protege contra os sorotipos: 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58.
Desde o ano passado, o Ministério da Saúde alterou o esquema vacinal contra o HPV para aplicação em dose única para as meninas e meninos de 9 a 14 anos. Para pessoas imunossuprimidas e vítimas de violência sexual, que também recebem a vacina na rede pública, o esquema vacinal com três doses foi mantido. “Essa mudança, respaldada por estudos que comprovaram a eficácia da vacina em uma dose para as crianças e adolescentes, antes do início de sua vida sexual, foi importante, inclusive, porque contribuiu para diminuir custos e proporcionar a possibilidade de ampliar a vacinação em alguns grupos populacionais, como entre as pessoas vivendo com HIV. A idade limite desse grupo para receber a vacina pelo SUS que era de 26 anos de idade passou a ser 45 anos”, avalia Dr. Raphael.
O desafio da adesão à vacinação contra o HPV
No entanto, apesar das evidências científicas que não deixam dúvidas sobre a eficácia da vacina contra o HPV, um dos grandes desafios ainda é a adesão da população ao imunizante. Entre os mitos está o de que ao vacinar as crianças, os pais estariam incentivando o início de uma vida sexual precoce.
A crença fortalecida pela desinformação encontra eco no fato do HPV ser um vírus transmitido por via sexual por intermédio de contatos oral-genital, genital-genital ou manual-genital. No entanto, como as lesões causadas pelo HPV podem se tornar malignas, é importante vacinar meninos e meninas, de preferência, antes do primeiro contato sexual. Segundo o especialista, vacinados antes de ter o contato o vírus, essas crianças e adolescentes apresentam uma redução do risco de até 90% de desenvolver câncer de orofaringe associado ao HPV.
Durante o atendimento a pacientes, Dr. Raphael muitas vezes se depara com questões relacionadas à desinformação das pessoas e considera que faz parte de sua responsabilidade como médico conscientizar sobre a importância da vacinação, com argumentos que tem como base a verdade científica sobre o imunizante. “A vacina contra o HPV é uma vacina contra o câncer. O início da vida sexual um dia vai acontecer, independentemente da criança ter sido vacinada ou não, portanto o melhor é que os filhos estejam protegidos”, explica.
Outra dúvida que surge é sobre a segurança da vacina e um eventual risco de desenvolver doenças. “Esse risco não existe, a vacina contra HPV não é capaz de gerar qualquer processo infeccioso. É um imunizante inativado, ou seja, produzido a partir de um vírus morto”, diz.
Vale vacinar contra o HPV quem já foi exposto ao vírus?
Além disso, estudos mostraram que há eficácia relevante da vacina contra HPV, inclusive em pessoas já expostas ao vírus. “Há mais de 200 sorotipos de HPV, dos quais cerca de 40 são capazes de infectar seres humanos. As vacinas disponíveis até o momento são a quadrivalente, no SUS, que protege contra quatro sorotipos, e a nonavalente, em instituições privadas, contra nove sorotipos.
A pessoa pode estar infectada por um dos sorotipos e ao tomar a vacina fica protegida dos demais”, diz. Inclusive nas instituições privadas, a vacina nonavalente pode ser aplicada em pessoas de 9 a 45 anos, obedecendo esquemas vacinais específicos para cada faixa etária.
O papel central do profissional de saúde
Na opinião do Dr. Raphael, médicos e profissionais de saúde em geral, todos aqueles que acolhem o paciente, têm um papel central para o maior adesão da população à vacina HPV e todos os demais imunizantes. “Uma simples atitude como a de pedir a carteira de vacinação do paciente e orientar sobre a importância de manter a vacinação em dia pode contribuir muito para virar o jogo da baixa cobertura vacinal, lembrando que o Brasil sempre foi um exemplo para o mundo em relação às vacinas”, afirma.