Estudo sugere que quimioterapia de indução antes da quimiorradioterapia melhora a sobrevida em pacientes com carcinoma de nasofaringe
O carcinoma nasofaríngeo é o tipo de câncer predominante que surge na nasofaringe, a passagem tubular atrás da cavidade nasal que se conecta à orofaringe abaixo.
A quimioterapia de indução com gencitabina e cisplatina mostrou resultados promissores no tratamento padrão do carcinoma de nasofaringe. Foi o que demonstrou o estudo multicêntrico e randomizado na fase 3, “Final Overall Survival Analysis of Gemcitabine and Cisplatin Induction Chemotherapy in Nasopharyngeal Carcinoma: A Multicenter, Randomized Phase III Trial”, publicado no Journal of Clinical Oncology.
A pesquisa analisou 480 pacientes de 12 centros na China, de dezembro de 2013 a setembro de 2016. Observou-se que aqueles designados para serem tratados com quimiorradioterapia concomitante isolada ou indução com gencitabina e quimioterapia com cisplatina antes da quimiorradioterapia concomitante, tiveram uma análise de sobrevida em cinco anos maior do que aqueles que não passaram pelo mesmo tratamento.
Os participantes foram aleatoriamente designados para receber gencitabina associada com cisplatina e quimiorradioterapia ou quimiorradioterapia isolada. O desfecho primário foi sobrevida livre de recorrência e os desfechos secundários foram sobrevida global e segurança.
Convidada pelo GBCP para comentar a pesquisa, a oncologista clínica Dra. Iara Lustosa, da Santa Casa de Campo Grande (MS), aponta que esse resultado forneceu dados de eficácia e segurança de grande relevância prática, fomentando o que já vem sendo feito na pratica clínica como tratamento padrão neste cenário: “O estudo mostrou que quimioterapia de indução nos tumores de nasofaringe estádios III e IV, virgens de tratamento, aumentou a sobrevida global dos pacientes em 5 anos em 9,1%, e reduziu o risco relativo de morte em 49%”, esclarece.
Detalhes da pesquisa
Para o desenvolvimento da pesquisa, no estudo de fase 2, como bem ressalta Dra. Iara Lustosa, existia o receio “de que aproximar um esquema com gencitabina pelo potencial radiosensibilizante da droga, pudesse implicar em uma toxicidade limitante a radioterapia”. Também havia, segundo ela, a preocupação de que uma dose cumulativa de cisplatina a partir de 240 mg/m², previamente à concomitância, pudesse comprometer a aderência ao tratamento de cisplatina concomitante a radioterapia e, consequentemente, levar a uma maior falha no controle da doença.
Mas, como evidencia o estudo, 96,7% dos pacientes conseguiram concluir os três ciclos da indução. “Embora a indução possa atrasar o início da radioterapia, isto não se refletiu em um pior controle local”, afirma a oncologista.
Por fim, a pesquisa concluiu que a quimioterapia de indução ofereceu melhor sobrevida livre de recorrência e sobrevida global em pacientes com carcinoma de nasofaringe. Na opinião da especialista, “é um esquema com drogas disponíveis no sistema público de saúde, que não requer infusão continua ou internação, com perfil de toxicidade manejável”. Mais uma contribuição científica para a prática nos hospitais pelo mundo.
Referência do estudo
YUAN ZHANG, MD; et al. Final Overall Survival Analysis of Gemcitabine and Cisplatin Induction Chemotherapy in Nasopharyngeal Carcinoma: A Multicenter, Randomized Phase III Trial. Journal of Clinical Oncology, 2022.
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