A incidência de câncer de orofaringe em todo o mundo tem aumentado desde 2000, principalmente devido a um aumento na doença mediada pelo HPV (papilomavírus humano).
Nesse sentido, o teste imuno-histoquímico da expressão de p16 para avaliação do status do HPV tem sido muito utilizado nos últimos anos, assim como o teste de HPV.
Porém, uma análise com quase 8 mil pacientes, publicada em fevereiro na Revista Lancet, apontou que nem todos os cânceres de orofaringe p16-positivos são causados pelo vírus HPV. Cerca de até 20% dos cânceres p16-positivos não detectam DNA ou RNA do vírus.
Os dados são do estudo “Prognostic implications of p16 and HPV discordance in oropharyngeal cancer (HNCIG-EPIC-OPC): a multicentre, multinational, individual patient data analysis”. Nele, pesquisadores europeus revisaram estudos com pacientes com câncer de orofaringe do Reino Unido, Canadá, Dinamarca, Suécia, França, Alemanha, Holanda, Suíça e Espanha.
A idade média dos participantes foi de 60 anos, 74,7% eram homens e 78,8% tinham doença localmente avançada. Os investigadores desta análise multicêntrica e internacional utilizaram dados de pacientes individuais. Eles realizaram uma pesquisa bibliográfica no banco de dados PubMed e Cochrane para revisões sistemáticas e estudos originais publicados em inglês entre 1º de janeiro de 1970 e 30 de setembro de 2022.
Foi percebido que há um número significativo de pessoas com resultados 'discordantes', nos quais os dois testes diferentes para HPV apresentam conclusões diferentes. No geral, 3,8% dos pacientes tinham câncer p16-negativo/HPV-positivo, 5,4% tinham doença p16-positivo/HPV-negativo, 44,3% tinham doença duplamente positiva e 46,5% tinham doença duplamente negativa.
Ainda foi observado que a sobrevida global de cinco anos foi de 81% entre testes duplos positivos, 53% para pacientes com teste p16-/HPV+ e 54% para pacientes com testes p16+/HPV- para pacientes. Além disso, a sobrevida livre de doença em cinco anos foi de 84,3%, 60,8%, 71,1% e 67,9%, respectivamente. Conforme os resultados apontados, os pesquisadores sugerem o teste de imuno-histoquímica de p16 de rotina e o teste de HPV devem ser obrigatórios para ensaios clínicos para todos os pacientes (ou pelo menos após um teste de p16 positivo).
Para avaliar esses dados, o convidado pelo GBCP é o médico patologista Leonard Medeiros, da OncoClínicas Precision Medicine. “É um estudo interessante e complexo. Porém, quando olhamos para décadas atrás e com metodologias diversas, é difícil comparar. Em alguma dessas análises, o P16 foi feito de forma manual e isso faz diferença.
Outro ponto são as técnicas moleculares. Elas evoluíram. O que foi detectado no passado não necessariamente seria observado hoje”, pontua.
Mas o médico patologista concorda com uma das conclusões que, dependendo do cenário, é necessária a realização dos dois testes: “Mas acho que isso deve ser discutido caso por caso e não de uma forma genérica”, conclui. A pesquisa foi financiada pela Cancer Research UK, pelo National Institute for Health and Care Research e pelo Medical Research Council e reuniu colaboradores de toda a Europa.
Ela também foi comentada em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.
Confira:
Referência
Mehanna H, Taberna M, von Buchwald C, et al. Prognostic implications of p16 and HPV discordance in oropharyngeal cancer (HNCIG-EPIC-OPC): A multicentre, multinational, individual patient data analysis. Lancet Oncol. Published online February 13, 2023. doi:10.1016/S1470-2045(23)00013-X.
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