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O enfermeiro navega o paciente para uma jornada mais individualizada e humanizada

  • Foto do escritor: gbcpcomunicacao
    gbcpcomunicacao
  • 29 de mai.
  • 4 min de leitura

Cada vez mais, o enfermeiro assume na equipe interdisciplinar um papel importante na construção de um atendimento humanizado e individualizado dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço.


Gisele de Farias

O gerenciamento e a navegação do cuidado, fortalecem o vínculo e a confiança, melhorando adesão e os desfechos do tratamento. Confira a entrevista sobre o tema que realizamos com Gisele de Farias, Enfermeira de Práticas Avançadas (EPA) da Oncoclínicas.

 

 

Qual o papel da enfermagem na equipe multidisciplinar nos cuidados do paciente de câncer de cabeça e pescoço?

Isso pode variar um pouco a depender da instituição onde você atua, mas o enfermeiro, na oncologia, assume um papel importante como interface entre o paciente e equipe interdisciplinar (médico, nutricionista, farmacêutico e psicólogo). O termo navegação, quando se refere a atuação do enfermeiro na oncologia está cada vez mais comum. Eu, por exemplo, atuo na Oncoclínicas como Enfermeira de Práticas Avançadas (EPA). Meu papel é gerenciar o cuidado e navegar o paciente em todas as fases do tratamento, diminuindo as barreiras e possíveis complicações, sendo a interface com a equipe interdisciplinar.

 

O profissional de enfermagem que atua com pacientes com câncer de cabeça e pescoço precisa de formação específica?

Precisamos ter especialização em oncologia. Esse é um pré-requisito exigido pelas instituições. Além disso, a experiência é um fator muito valorizado. Depois, como a oncologia abrange um leque grande de tipos de câncer, vamos nos especializando conforme adquirimos conhecimento durante nossa atuação prática, além de sempre ser recomendado realização de cursos, participação em eventos da área e leitura científica. A assistência precisa ser baseada em evidências e essa busca pela atualização é contínua. Eu, por exemplo, estou fazendo mestrado agora para aperfeiçoar e aprimorar minha prática.

 

Como está organizada a área de Práticas Avançadas na Oncoclínicas?

Na unidade da Oncoclínicas que atuo, no Rio de Janeiro, estamos organizados em núcleos, definidos pelos tipos de câncer. Eu atuo no núcleo azul onde a maior prevalência são tumores de cabeça e pescoço e torácicos. Temos também os núcleos de mama e ginecológico; melanoma e geniturinário; gastrointestinal e sistema nervoso central e hematologia.

 

Como o núcleo de câncer de cabeça e pescoço funciona  na prática?

No núcleo de câncer de cabeça e pescoço, assim como nos demais, a enfermeira de Práticas Avançadas é o primeiro contato com o paciente quando ele chega à clínica. Recebemos o paciente no consultório da enfermagem e fazemos a anamnese. Há os que já apresentam diagnóstico definido e os que ainda estão em investigação. Em seguida, encaminhamos o paciente à consulta médica. Quando o tratamento é definido, ele passa em consulta com a EPA, para que seja realizado o planejamento, as orientações pré e pós-tratamento, o esclarecimento sobre tele monitoramento e o encaminhamento para equipe interdisciplinar. É frequente o paciente ter muitas dúvidas, isso é natural, pois recebeu muitas informações e está iniciando uma nova fase em sua vida, sendo assim, nosso papel é orientar, esclarecer e educar constantemente.

 

 

Qual a importância da escuta ativa do paciente?

É fundamental porque, além de sintomas físicos, há questões emocionais que conseguimos perceber na conversa com o paciente.  Em nossa primeira consulta, percebemos o quanto o paciente está fragilizado emocionalmente e, com isso, realizamos o acolhimento e o encaminhamento para psicologia. Temos uma abordagem que vai da escuta à conscientização e educação, sobre como ele pode contribuir para o êxito do tratamento. Estamos falando de uma doença que, mesmo com o sucesso do tratamento, pode resultar em sequelas funcionais importantes e o paciente vai precisar lidar com essas questões desde o início, portanto, precisamos estar atentos para uma intervenção efetiva.

 

Como acontece o encaminhamento depois da consulta?

O encaminhamento para equipe é feito de acordo com as necessidades de cada paciente. Para aqueles que irão iniciar o tratamento, a avaliação nutricional e odontológica, é indicada o mais precoce possível. Em relação à nutrição, para minimizar alterações alimentares que impactam a tolerância do tratamento e em relação a avaliação odontológica, para prevenir possíveis infecções. Além disso, o acompanhamento contínuo do dentista, durante e após o tratamento é essencial, tanto para medidas profiláticas quanto para auxiliar na cicatrização de lesões.

 

 

Por que é importante acolher o paciente?

Quando o paciente se sente acolhido, gera um vínculo de confiança com toda equipe. O paciente retorna ao consultório da enfermagem toda vez que vem em consulta com seu médico e esse fluxo acaba estreitando o vínculo. Além disso, fazemos o monitoramento clínico por meio de ligações telefônicas para identificação e manejo precoce de eventos adversos, melhorando adesão às orientações e ao tratamento, proporcionando assim melhores resultados.

 

A enfermagem também tem contato com a família?

Sem dúvida. A família tem um papel muito importante na jornada do paciente. Uma família bem orientada e disposta a ajudar, propaga as informações necessárias e facilita que a nossa orientação esteja sendo posta em prática, pois é em casa, com os familiares, que o paciente passa a maior parte do tempo. Quando o paciente não tem esse suporte familiar ou de alguém próximo, a jornada fica muito mais difícil.

 

 Em relação a comportamentos do paciente, há um desafio que se destaca?

São muitos, mas o principal está relacionado à autoimagem. Pacientes de cabeça de pescoço ficam extremamente fragilizados devido às lesões e cicatrizes, que em alguns casos acabam levando a desfiguração facial. O apoio psicológico é imprescindível, já que muitos acabam se isolando do convívio social,  o que impacta diretamente em sua qualidade de vida.

 

Como é a interação com o médico e a equipe?

Nós temos apoio da equipe médica e interdisciplinar. A comunicação precisa acontecer para a integração do cuidado. E não poderia ser de outra forma, precisamos estar atentos.  Fazemos reuniões após o término das consultas a fim de alinhar condutas e orientações. Dessa reunião, participam médicos e os outros membros da equipe.

 

Para atuar na navegação de pacientes oncológicos, especialmente, de câncer de cabeça e pescoço, qual a qualidade mais importante que um profissional de enfermagem deve ter?

Um olhar mais amplo, além da doença, que perpassa por todas as dimensões do paciente e assim proporcionar um cuidado humanizado e personalizado. A disposição para atualização constante também é importante, reforço que o cuidado precisa ser baseado em evidência. Embora isso seja fundamental para qualquer carreira, independentemente da área.

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