Pacientes com câncer de laringe, que retiraram o órgão, relatam qualidade da voz após terapia de deglutição
- gbcpcomunicacao
- 2 de jun.
- 2 min de leitura
No podcast Conexão Cabeça e Pescoço, a fonoaudióloga Lica Arakawa Sugueno analisa o impacto da voz traqueoesofágica em pacientes com câncer de laringe, submetidos à reabilitação de disfagia baseada em resistência (flexão do queixo, abertura da mandíbula e deglutição com esforço).

Lica Sugueno é especialista em Voz pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP e colaboradora do curso de pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
O ponto de partida da conversa é um estudo multicêntrico holandês que avalia se os exercícios voltados à deglutição poderiam impactar positivamente a qualidade da voz desses pacientes. Apesar de não ter identificado melhora estatisticamente significativa na voz, o estudo contribui com uma perspectiva sobre a relação entre deglutição e fonoterapia em laringectomizados totais (pacientes que retiram toda a laringe).
O estudo partiu da premissa de que a laringectomia total pode comprometer diversas funções vitais como fala, respiração, olfato e deglutição. No entanto, nas últimas décadas, tornou-se possível diminuir muitos desses comprometimentos devido aos avanços na reabilitação pós-laringectomia. Em relação à reabilitação vocal, além dos métodos mais tradicionais de voz esofágica e eletrolaringe, as próteses vocais traqueoesofágicas tornaram-se a opção de reabilitação preferida.
Em uma amostra de 20 pacientes laringectomizados com disfagia autorrelatada, após um programa de reabilitação de 6 semanas, baseado em exercícios de resistência, não foram encontradas alterações significativas na qualidade vocal objetiva e subjetiva e na inteligibilidade, nem nas pressões traqueal e neofaríngea durante a vocalização. Com esses resultados, a conclusão é que, embora para os participantes, tenha havido várias alterações clinicamente relevantes no geral, isso indica que a fala traqueoesofágica em média não é afetada pela terapia de deglutição baseada em exercício de resistência
Em sua análise, Lica Sugueno observa que o estudo traz diferentes formas de análise, desde parâmetros acústicos até autorrelatos, que, segundo ela, ajudam a compreender melhor os impactos da reabilitação. Ao avaliar a metodologia, faz ressalva ao baixo número de participantes e seleção de pacientes com queixas de deglutição. “Amostras pequenas e heterogêneas limitam a força estatística dos resultados, mas os autores ainda oferecem insights clínicos importantes”, pondera.
A fonoaudióloga aponta para barreiras existentes no Brasil, como o fato de os equipamentos utilizados no estudo ainda não estarem disponíveis no país, o que dificulta a aplicação direta das conclusões. “No entanto, há exercícios alternativos acessíveis e protocolos validados em português que podem ser utilizados”, informa Sugueno. Outro aspecto discutido foi o acesso à prótese traqueoesofágica. Mesmo com leis que garantem acesso pelo SUS, os pacientes enfrentam entraves burocráticos, principalmente na rede privada. “Apesar das limitações do estudo analisado, o artigo aponta para a necessidade de abordagens integradas na reabilitação, com foco na qualidade de vida do paciente. Também são necessárias políticas públicas que garantam acesso a tecnologias essenciais na reabilitação vocal”, conclui Lica Sugueno.
O papo completo está disponível em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.
OUÇA O PODCAST
Referência do estudo
Neijman M, van Sluis KE, van Son RJJH, Stuiver MM, Hilgers FJM, van den Brekel MWM, van Alphen MJA, van der Molen L. Tracheoesophageal Voicing Following Resistance-Based Dysphagia Rehabilitation: An Exploratory Multidimensional Assessment. Head Neck. 2025 Mar 25.
Disponível em: