JUPITER-02 indica novo padrão terapêutico para carcinoma de nasofaringe recorrente ou metastático
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O episódio 30 do podcast Conexão Cabeça e Pescoço trouxe a análise dos resultados do estudo clínico de fase 3 JUPITER-02, que investigou a combinação do bloqueador de PD-1 toripalimabe com quimioterapia à base de platina em pacientes com carcinoma de nasofaringe recorrente ou metastático.

O episódio 30 do Conexão Cabeça e Pescoço, podcast em formato de pílulas do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP), analisou os resultados do estudo clínico de fase 3 JUPITER-02, que investigou a combinação do bloqueador de PD-1 toripalimabe com quimioterapia à base de platina em pacientes com carcinoma de nasofaringe recorrente ou metastático. Com apresentação do oncologista Gilson Veloso, atual diretor de Marketing do GBCP, o episódio contou com a participação da oncologista clínica Izabella Negreiros, da Oncoclínicas do Distrito Federal e integrante do Comitê de Educação do GBCP.
Considerado uma neoplasia relativamente rara no Ocidente, mas altamente prevalente no Sudeste Asiático, chegando a representar até 40% dos tumores de cabeça e pescoço em regiões do Sul da China, o carcinoma de nasofaringe tem características peculiares. Está fortemente relacionado ao vírus Epstein-Barr (EBV), apresenta alta radiossensibilidade e comportamento biológico distinto dos carcinomas escamosos de cabeça e pescoço. “É uma doença que historicamente ficou de fora dos grandes estudos que incorporaram imunoterapia ao tratamento do câncer de cabeça e pescoço metastático”, explicou a oncologista.
No JUPITER-02 os autores avaliaram toripalimabe associado à gemcitabina e cisplatina como tratamento inicial, em comparação ao regime padrão isolado. Conduzido em 35 centros da China continental, Taiwan e Singapura, o ensaio incluiu 289 pacientes e contou com acompanhamento mediano de 36 meses. Os resultados foram considerados expressivos. A sobrevida livre de progressão mais do que dobrou, aumentando de 8,2 para 21,4 meses, com redução de aproximadamente 48% no risco de progressão da doença. Em relação à sobrevida global, os pacientes tratados com toripalimabe também apresentaram desempenho superior: mesmo após acompanhamento prolongado, a mediana ainda não havia sido alcançada, enquanto no grupo controle ficou em 33,7 meses, traduzindo redução de 37% no risco de morte.
Outro ponto de destaque foi a consistência do benefício clínico independentemente da expressão de PD-L1, biomarcador comumente utilizado para predizer resposta à imunoterapia. “Esse resultado reforça o potencial da combinação para um espectro amplo de pacientes, sem necessidade de estratificação prévia por biomarcador”, avaliou Negreiros. Quanto à segurança, a especialista classificou o perfil como esperado dentro do cenário de imunoterapias combinadas: houve maior incidência de eventos imunomediados no grupo toripalimabe, como dermatite e tireoidite autoimune, porém sem aumento relevante de toxicidades graves ou fatais.
A convidada ponderou, entretanto, que a aplicabilidade global dos dados ainda exige prudência. Por se tratar de uma doença rara em outras regiões, estudos robustos em população ocidental são mais difíceis de conduzir, o que pode limitar a extrapolação imediata dos resultados. Ela também destacou que o tempo máximo de manutenção da imunoterapia foi de dois anos e ainda não há certeza sobre a duração ideal do tratamento. A discussão sobre o uso do DNA circulante do vírus Epstein-Barr como ferramenta para orientar decisões terapêuticas também permanece aberta.
Apesar das ressalvas, a análise é otimista. Segundo a convidada do episódio 30, o JUPITER-02 consolida a associação de toripalimabe com quimioterapia como um novo padrão de primeira linha para pacientes com carcinoma de nasofaringe recorrente ou metastático. “É uma droga animadora e estamos ansiosos para incorporá-la à prática clínica no Brasil assim que houver disponibilidade regulatória”, reforçou Gilson Veloso, reforçando que outras imunoterapias investigadas no cenário também podem ampliar o arsenal terapêutico nos próximos anos.
O papo completo está disponível em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.
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Referência do estudo
Mai HQ, Chen QY, Chen D, Hu C, Yang K, Wen J, Li J, Shi Y, Jin F, Xu R, Pan J, Qu S, Li P, Hu C, Liu YC, Jiang Y, He X, Wang HM, Lim WT, Liao W, He X, Chen X, Wang S, Yuan X, Li Q, Lin X, Jing S, Chen Y, Lu Y, Hsieh CY, Yang MH, Yen CJ, Samol J, Luo X, Wang X, Tang X, Feng H, Yao S, Keegan P, Xu RH. Toripalimab Plus Chemotherapy for Recurrent or Metastatic Nasopharyngeal Carcinoma: The JUPITER-02 Randomized Clinical Trial. JAMA. 2023 Nov 28;330(20):1961-1970.
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