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Prevenção e diagnóstico precoce de câncer de cabeça e pescoço formam a dupla fundamental no combate à doença

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    gbcpcomunicacao
  • há 2 dias
  • 6 min de leitura

Apesar dos principais fatores de risco do câncer de cabeça e pescoço – tabagismo, consumo excessivo de álcool e infecção pelo vírus HPV – serem evitáveis, os casos continuam chegando. E mais grave, 80% deles com doença avançada.

Dr. Fabio Mitsuhiro Satake

Confira a entrevista do cirurgião de cabeça e pescoço, Dr. Fabio Mitsuhiro Satake:


Quais são os tumores que englobam o câncer de cabeça e pescoço?

A especialidade de cirurgia de cabeça e pescoço engloba patologias benignas e malignas que se desenvolvem na boca, lábios, faringe, laringe, fossas nasais, seios paranasais, glândulas salivares e tireoide.  Além disso tumores de pele  que acometem a face, o pescoço e o couro cabeludo. Diferentemente do que algumas pessoas que não são profissionais de saúde podem pensar, tumores cerebrais não fazem parte do cuidado do cirurgião de cabeça e pescoço, mas da  neurocirurgia.

 

O leque de patologias é amplo. Podemos dizer que é uma especialidade bastante complexa?

Sim e ainda temos os subtipos. O câncer de tireoide, por exemplo, tem vários subtipos, o  mais comum é o carcinoma papilífero. Nas demais regiões também temos diversos subtipos, sendo que o principal é o carcinoma espinocelular. Em relação aos tumores de pele, que se desenvolvem na face, temos o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e o melanoma. Cada um dos subtipos tem suas particularidades.

 

Quais são os principais fatores de risco desses cânceres?

Quando falamos  em fatores de risco do câncer de cabeça e pescoço, o principal para todos os tipos, especialmente para o carcinoma espinocelular, é o tabagismo. Caso a pessoa associe o tabagismo ao consumo de álcool, potencializa ainda mais esse risco. Outro fator de risco importante é a infecção pelo vírus HPV, para o qual há vacina. No caso de tumores de pele, o principal fator de risco é a exposição solar sem proteção.

 

É correto afirmar que todos esses fatores de risco são evitáveis?

Sem dúvida. Sobre o tabagismo e a bebida alcoólica, a recomendação é não adotar o consumo. E se a pessoa já for fumante, abandonar o vicio.  Essa tarefa não é fácil devido à comprovada capacidade da nicotina presente no cigarro de criar dependência. Para se libertar do vício da nicotina, a pessoa pode procurar ajuda em instituições, inclusive vinculadas ao sistema público.


A exposição prolongada ao sol e sem proteção é outro comportamento evitável, salvo no caso de alguns trabalhadores, como os que atuam em áreas rurais, por exemplo, que não têm opção de não se expor ao sol pela natureza de sua atividade. Esses profissionais devem usar protetor solar, além de barreiras físicas de proteção, como vestimentas apropriadas, chapéus, bonés. A vacinação contra o vírus HPV é outra medida de proteção que deve ser tomada. O imunizante está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos entre de 9 a 14 anos e para pessoas imunossuprimidas e vítimas de violência sexual, entre outros públicos.

 

O Brasil que no tema vacina sempre foi exemplo mundial, lida com problemas de baixa adesão aos imunizantes e a vacina do HPV não é a exceção. Qual é sua opinião sobre esse assunto?

Infelizmente isso é verdade. Acredito que, principalmente, por conta dos reflexos  da época da pandemia da Covid-19, a desinformação se alastrou e a onda antivacina ganhou força. No entanto, não há qualquer evidência científica em relação as informações contra as vacinas e isso também vale para o imunizante contra o HPV. Os argumentos contra as vacinas têm como base especulações e mitos. A verdade é que o Brasil tem um longo histórico positivo de vacinação em diversas doenças. No caso da vacina contra o HPV, ela constitui a maneira mais eficiente, aliada a outros métodos de proteção, de evitar o contágio desse vírus que, comprovadamente, aumenta o risco para o câncer de cabeça e pescoço e outras doenças oncológicas.

 

Existe alguma forma segura ou menos prejudicial de consumir tabaco? Por exemplo, quem fuma pouco tem menos risco?

Essa é uma pergunta bastante frequente entre nossos pacientes em tratamento de câncer de cabeça e pescoço. Afinal, a maioria é fumante e, muitas vezes, desenvolveu a doença em função do tabaco. Mesmo assim, apresentam muita dificuldade para cessar o tabagismo, sempre orientado nas consultas. Eles argumentam que “estão diminuindo”. No entanto, é preciso ressaltar que não há limite de segurança em relação ao tabaco.

 

 E o consumo de álcool?

O etilismo também é prejudicial, mas é diferente do tabaco. Sabemos que o etilismo associado ao tabagismo aumenta o risco para câncer de cabeça e pescoço. Mas o grande problema é o excesso. Uma pessoa que esporadicamente toma uma taça de vinho não terá problemas. Casos em que a pessoa vincula qualquer pequena dose de bebida alcoólica à vontade de fumar, é preciso parar com os dois.

 

O que acontece com o paciente em tratamento ou que finalizou o tratamento de câncer de cabeça e pescoço e não consegue parar de consumir tabaco e álcool?

Ele continua sendo exposto ao principal fator de risco, o que  aumenta a chance de desenvolver um segundo tumor primário. Para complicar ainda mais, estudos mostram que pacientes que desenvolvem um segundo tumor primário apresentam resposta pior ao tratamento. E isso faz sentido. Imagine um paciente que foi submetido à radioterapia e à quimioterapia, ou seja, seu organismo sofreu com os efeitos desses tratamentos e mesmo assim desenvolve um segundo tumor primário. Provavelmente, as células tumorais desse novo tumor serão mais resistentes ao tratamento.

 

No caso do câncer de cabeça e pescoço, a hereditariedade, ou seja, o câncer familiar é uma questão?

Em doenças oncológicas de cabeça e pescoço, o câncer hereditário, resultante de uma mutação transmitida entre gerações, é menos comum. Isso acontece com alguns subtipos, mas o que prevalece é o câncer esporádico, principalmente relacionado aos fatores de risco ambientais e comportamentais.

 

Em que momento a maioria dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço costuma ser diagnosticado. Na fase inicial ou com doença mais avançada?

Infelizmente, 80% dos casos de câncer de cabeça e pescoço são diagnosticados em estágios avançados. Numa classificação que vai até 4, a maioria chega ao especialista já nos estágios 3 ou 4. Por outro lado, nos poucos casos em que a doença é diagnosticada em fases iniciais, as chances de cura são de até 90%. Isso mostra o quanto é importante a prevenção primária – evitar os fatores de risco – e secundária, que é diagnosticar mais rápido, antes que a doença avance.

 

Por que a maioria dos pacientes são diagnosticados tardiamente?

A especialidade cirurgia de câncer de cabeça e pescoço é desconhecida pela maioria das pessoas. Muitas vezes, elas apresentam uma lesão inicial e não sabem qual médico procurar. Além disso, ao buscar um profissional de saúde – médicos, dentistas, entre outros –  às vezes há demora para suspeitar de um possível câncer e encaminhar para o cirurgião de cabeça e pescoço. No sistema público essa jornada torna-se ainda mais complicada pelas várias lacunas existentes. Não raro,  recebo pacientes que estão há mais de seis meses com uma lesão na região da cavidade oral, sem ter conseguido diagnóstico.

 

O que pode ser feito para mudar essa situação?

Um dado importante é que a epidemiologia dos nossos pacientes mostra que a maioria apresenta condições socioeconômicas mais precárias. Portanto, a porta de entrada deles em relação aos cuidados com a saúde costuma ser o Programa de Saúde da Família (PSF), do Sistema Único de Saúde. Dessa forma, é muito importante capacitar as equipe do PSF sobre o câncer de cabeça e pescoço para que consigam reconhecer uma lesão suspeita e saber que esse paciente precisa ser encaminhado o mais rápido possível para um centro onde possa ser adequadamente avaliado, submetido a biopsia e instituído o tratamento. Além disso, as campanhas de prevenção e diagnóstico precoce de câncer de cabeça e pescoço são importantes tanto para o público leigo como para os colegas de outras especialidades, responsáveis por encaminhar os pacientes.

 

A que sinais, um médico ou outro profissional de saúde deve estar atento e suspeitar de uma lesão maligna?

Entre os sinais que devem ser investigados por especialista estão: feridas orais que não cicatrizam por mais de 15 dias; rouquidão persistente que se estende por mais de um mês;  nódulos no pescoço; lesões na face persistentes no período de um mês. Em todas essas situações o paciente precisa de uma investigação para confirmar ou descartar uma doença oncológica. Se confirmado e tratado no início, as chances de cura são mais altas e a necessidade de tratamentos mais agressivos é menor.

 

Em termos de tecnologia, qual foi o avanço mais importante da cirurgia de câncer de cabeça e pescoço nos últimos anos?

Nos últimos anos, a cirurgia robótica, embora não esteja acessível em todos os centros, especialmente os do SUS, foi um avanço muito importante. Com a técnica robótica, conseguimos um acesso melhor e a cirurgia fica menos agressiva, sem comprometer o resultado oncológico.

 

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