Maior toxicidade limita conclusão do tratamento padrão em pessoas vivendo com HIV e carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço
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O episódio 31 do podcast Conexão Cabeça e Pescoço analisa os resultados de um estudo realizado no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), que investigou a efetividade e a toxicidade do tratamento do carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço em pessoas vivendo com HIV.

A discussão foi conduzida pelo oncologista Gilson Veloso, diretor de Marketing do GBCP, com comentários do médico oncologista Matheus Henrique Juliani Arneiro, autor principal do trabalho.
Entre 2009 e 2022, o estudo avaliou quase seis mil pacientes tratados no ICESP. Desse total, 75 viviam com HIV, uma proporção pequena, mas que revela um comportamento epidemiológico importante: esses pacientes chegam mais jovens ao diagnóstico (média de 53 anos), com predominância masculina, além de alta taxa de tabagismo. A maioria apresentava tumores avançados e o local mais comum era a orofaringe, região com forte associação ao papilomavírus humano (HPV). “A convivência com o HIV traz um contexto clínico desafiador, pois o tratamento do câncer de cabeça e pescoço costuma ser agressivo, em pessoas que muitas vezes frágeis do ponto de vista clínico, imunológico e social”, explicou Arneiro.
Apesar de quase todos estarem em terapia antirretroviral, um terço ainda apresentava carga viral detectável e 25% tinham baixa contagem de linfócitos T CD4, sinal de imunossupressão significativa. Esses parâmetros influenciaram diretamente a capacidade de tolerar tratamentos combinados. Entre os que receberam quimiorradioterapia (abordagem padrão para doença localmente avançada) nenhum paciente com carga viral positiva ou baixa contagem de CD4 conseguiu completar o tratamento. Houve necessidade de reduzir doses de quimioterapia e foram observadas mais toxicidades, interrupções terapêuticas e eventos graves, incluindo mortes durante o tratamento. “Isso reforça o quanto a condição imunológica não pode ser tratada como mero detalhe clínico: ela impacta desfechos e exige maior individualização”, comenta o convidado.
Ainda assim, quando os pesquisadores analisaram sobrevida global considerando outros fatores relevantes (como idade e estadiamento) não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos com controle de carga viral ou contagem de linfócitos T CD4 normal versus aqueles mais vulneráveis. “Isso pode ser explicado por viéses inerentes à um estudo retrospectivo e reforçam a necessidade de estudos prospectivos avaliando esta população”, pontua Arneiro.
O estudo também chama atenção para a necessidade de aprimorar o modelo assistencial. Pacientes vivendo com HIV enfrentam carga adicional de toxicidade, barreiras sociais e maior risco nutricional, todos fatores que podem comprometer a continuidade do tratamento. A ausência de grupo controle HIV-negativo e de informações completas sobre adesão ao tratamento antirretroviral são limitações reconhecidas, mas que abrem caminho para novas pesquisas, idealmente prospectivas e multicêntricas.
Segundo o analista convidado, o principal recado é que oncologia e infectologia devem caminhar juntas para oferecer suporte ampliado, especialmente na avaliação de risco, na gestão de efeitos adversos e no acompanhamento nutricional e psicossocial. “A integração entre equipes é decisiva para que esses pacientes tenham acesso ao melhor tratamento possível com segurança”, reforçou Arneiro.
O papo completo está disponível em episódio do Conexão Cabeça e Pescoço, o podcast, em formato de pílulas, do GBCP.
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Referência do estudo
Arneiro, Matheus Henrique Juliani, et al. “Effectiveness and Toxicity of Head and Neck Cancer Treatment among People with HIV in Brazil.” Academia Oncology, vol. 2, no. 3, Academia.edu Journals, 2025,
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